domingo, 31 de maio de 2009

REFLEXÕES DO MATUTO SERTANEJO A RESPEITO DA CRISE CAPITALISTA*

Marcos Freitas, Lira Alli e Alder Calado.



Meu compadre Zé Povo

Escute o que vou dizer

Sobre essa tal de crise

Que o capital ta a viver

Só pro mode descobir

O que querem esconder



Esse tal capitalismo

Quando entrou na nossa historia

Veio todo chei de banca

Veio todo chei de gloria

Dizendo em letra grauda

- depois de mim só a memoria.



Diz-se a forma perfeita

De todo o modo de vivê

Que o problema de todos

É capaz de arresolvê

Qu’ao individuo é importante

Competir pra desenvolvê



Mas quem manda no capital

Zé Povo, presta atenção

É uma tal de burguesia

Que concentrou na mão

O controle do estado

E dos mei de produção



Por isso que a nós só resta

Os braços pra trabalhar

Pra poder sobreviver

Pra poder se alimentar

Desde o campo até a cidade

A situação é bem iguá



O trabalhador tem que vender

Seu trabalho todo dia

E mesmo sem perceber

Vai virando mercadoria.. .



Mas, daí vem essa crise

No centro do capital

É quebradera de banco

Capitalista passa mal

Trancamento de impresa

Desemprego infernal



E aí o matuto

Que só sabia trabaiá

Logo perde seu emprego

E se põe a matutar



“Se o patrão me despediu

Sem nem se desculpar

E logo despede outro

Dizendo qué pra se recuperar

Dessa crise a avançar...

Se eu não tenho mais emprego

Como vou me sustentar?”



Zé povo, presta atenção

Para não se confundir

É preciso munição

Para não sucumbir

É com a informação

Que tu vai se instruir:



Nosso país ta seguindo

A receita do mercado

Sem consultar o povo

Dando dinheiro emprestado

Fazendo papel errado

Servindo ao imperialismo

Carregado de cinismo

Aprediz de caloteiro...

Nenhum tostão pra banqueiro

Pra salvar Capitalismo!



Zé Povo, olha lá

Nóis temo que se ajuntá

Seja matuto sertanejo,

Ou o mano da cidade

Seja mulher trabalhadora

Estudante, não importa a idade



Se cada um ficar por si

Se ninguém se der as mãos

Aí não dá resultado,

Aí não tem solução!



Vai ser grande essa peleja

Contra o tal de Capital

Mas antes que ele veja

Vai ser o golpe fatal:



Nóis tudo ajuntado

Sem aceitar demissão

Nem nada que for errado

Sem apoiar patrão.

Pode ser greve, passeata,

Poesia, paralização:

É construindo um projeto

Para a nossa nação

Que transformamos a vida,

Garantimos o nosso pão

E a felicidade

Pra viver sobre esse chão.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Almas do terceiro mundo

A situação é dramática, mas ninguém está interessado em ver a cidade opaca. Poís ela não é facil de ser vista, e quando vista , transforma a vida de qualquer um. Essa cidade, um fruto de nossa mente, que nos faz apenas ver, mas não enxergar o que o que realmente está acontecendo, nela as miseráveis almas que queimam no inferno terreal, vivem do lixo, do esgoto, do resto, são os homo-abutris , vivem no lixo, com suas carnes sendo consumidas por vermes de todos os tipos. Almas que vivem no inferno metropolitano. Vivem nos submundos das grandes cidades, não são pessoas, são almas penadas, pois para a gente, cidadões de primeira ordem, os homo-metropolitanus uma especie que se sente a maior de todas, e não dá atenção as sombras esqueleticas que o seguem todo dia pela cidade, não os consideram gente. Não ligam para o estado de humilhação perante a vida com que essas pobres almas penam pelo terceiro mundo. O esgoto que sai da casa dos cidadões vai diretamente para o sangue daquela pobre alma. Imagine que a cada vez que você vai ao banheiro, você envenena com tudo aquilo de ruim que saiu de você, o sangue de uma criança, que vive nas palafitas sobre os rios esgotarios, rios que são verdadeiros deposito de morte. Tudo que está nele, está morto. O rio passa os dias sugando aos poucos a alma daquele pobre ser humano, que se ve obrigado a viver na pior condição de vida que uma pessoa pode ter. Seu sangue não possui vitaminas, possui os dejetos de toda uma cidade. Seu corpo se torna inteiro como o rio, e como o rio, essas pobres almas se tornam aos poucos na morte. Onde elas vivem, uma sombria senhora, convive com as crianças,e leva algumas para sua casa, crianças que mal completara um ciclo solar, mas que vão logo cedo de suas casas, para a morada daquela obscura senhora, chamada de dona morte. E os homens cidadões de primeira ordem, consedem essa cruel e dramatica ordem que se impôs contra aquelas almas. São os sugadores de suas almas, e se sentem bem em não ve-las. Não sentem nada ao ver uma criança pedindo , se humilhando perante uma pessoa igual, para que ela possa dar um pedaço de metal que não se pode comer, não se pode usar para nada de util. Apenas trocar. Os superiores cidadões irão trocar. Eles gostam disso, gostam de trocar as coisas, trocam um papel pelo outro, um favor por outro, trocam sua vida pelo prazer incontrolavel de possuir dinheiro. O mal de todas as desgraças humanas, o que separa os homens, o que torna você e eu diferentes. Porque se eu tenho mais ou menos dinheiro, eu posso vagar pelo mundo como uma alma penada, ou como um rei. Um rei humano que perde a coroa com o passar de sua vida, pois ele nunca se importou com os outros. Nunca prestou atenção no seu reinado, no seu povo, no seu vizinho e irmão que vive do seu lado, mas que tem em seu sangue, os dejetos de milhões de pessoas. Essas pobres almas vivem como parte de nossas vidas. Aliás acostumamos com elas, não nos surpreendemos com nada de absurdo. Pois o absurdo está banalizado, é o cotidiano. Cotidiano que para muitos, são a punição de suas vidas passadas. Pois não faz sentido alguem querer ter uma vida dessa. Pessoas que de tão humilhadas, deixaram de serem homo-sapiens, para se tornarem homo-abutris, carniceiros que vivem do resto. São o resto. Aquilo que ninguem quer que exista, mas que ninguem faz nada para que deixe de existir. Estão fadados a se assustarem com as almas penadas, mas sabem que elas nao fazem nada, vivem na lama , fracas demais para sairem dela. Uma cruel areia movediça de humilhação, onde sempre se vai mais para o fundo, e com isso, ela se contenta com isso, vivem acreditando que estar no fundo é o lugar natural delas, e se viciam no veneno da cidade que invade suas veias e bate fundo em seu cerebro, que é a sua ultima morada, o ultimo reduto que essa pobre alma tem para se esconder. Aguardo ansioso pelo dia que essas almas irão se materializar no nosso mundo, e todos os homens de primeira ordem, não saberão como reagir, e perderão vossas almas, pela discarga do sanitario que outrora alimentou o sangue negro daqueles que vagam por ai. Se esconda, pois não terão piedade, pois deles, ninguem teve.




Baseado a principio na cidade do Recife, mas serve para todo o terceiro mundo...

Ocupação Dandara

O que começou com 150 famílias, na madrugada do dia 09/04, já alcança hoje, na tarde de segunda, a marca de 981 barracos cadastrados e numerados. Em alguns é
possível encontrar famílias com dez ou quinze pessoas, dentre adultos, jovens e crianças. Ou seja, estima-se a presença de mais de quatro mil pessoas na mais nova ocupação rururbana de Belo Horizonte.

Batizada de Dandara, em homenagem a companheira de Zumbi dos Palmares, a ação foi realizada conjuntamente pelo Fórum de Moradia do Barreiro, as Brigadas Populares e o MST. A ação faz parte do Abril Vermelho, em que se reforçam as lutas sociais pela função social da propriedade (previsto no inciso 23 do artigo 5º da Constituição Brasileira) e inaugura em Minas Gerais a aliança entre os atores da Reforma Agrária e da Reforma Urbana.

Neste sentido, a Dandara traz dois diferenciais. O primeiro é o perfil rururbano da ação, que reivindica um terreno de 40 mil metros quadrados no bairro Céu Azul, na periferia de Belo Horizonte. A idéia é pedir a divisão em lotes que ajudem a solucionar o passivo de moradia de Belo Horizonte, hoje avaliado em 100 mil unidades, das quais 80% são de famílias com ganhos abaixo de três salários mínimos. E também contribuir na geração de renda e na segurança alimentar, ao adotar-se um sistema de agricultura periurbana, em que cada lote destine uma área de terra possível de se tirar subsistência ou complemento de renda e alimentação saudável.

O segundo diferencial é a conjuntura da crise do capitalismo. A enorme massificação da área pelas famílias da região foi surpresa para todos os militantes presentes, e ainda segue chegando gente, na busca de sair de áreas de risco ou fugindo do aluguel que se tornou impagável.

Multiplicam-se os barracos de lona, entram famílias inteiras com colchões, móveis, fogões, filhos e sonhos. É a confirmação da instalação da crise econômica do capital, que vem varrendo o mundo por conta da insanidade dos ricos na sua busca de mais lucros no mercado financeiro, através do neoliberalismo do ultimo período. Agora pretendem cobrar a conta dos pobres, através do desemprego, da fome e da violência.

HISTÓRICO E SITUAÇÃO ATUAL

A ocupação foi realizada na madrugada de 09/04/09 com 150 famílias, pelo Fórum de Moradia do Barreiro, Brigadas Populares e MST. O terreno tem 40 hectares e está abandonado desde a década de 70, além de acumular dívidas de impostos na casa de 18 milhões de reais.

Toda a imprensa cobriu o caso e está havendo grande repercussão pública em Belo Horizonte. As matérias de modo geral (exceto Globo) têm tratado com relativa isenção, e o Estado de Minas resolveu silenciar. A Record tem feito plantões permanentes atualizando os fatos e dando a melhor cobertura.

Ao final do primeiro dia a polícia tentou despejar sem liminar de reintegração de posse, e durante a noite, o que é proibido por lei. Foram três horas de terror, com a investida de mais de 150 homens do batalhão de choque, que explodiram bombas, lançaram gás pimenta e destruíram dezenas de barracos com vôos rasantes de helicóptero.

A comunidade, em apoio aos manifestantes, resolveu intervir, atirando pedras e enfrentando fisicamente a polícia, o que resultou em vários feridos e três presos.

A polícia tem aproveitado o enorme efetivo deslocado para o local para enfrentar o tráfico de drogas da região, unificando o tratamento dado aos bandidos e aos lutadores do povo que reivindicam moradia. Também tem atuado de forma arbitrária ao confinar os barracos em uma área restrita dentro do terreno, onde já não cabem mais pessoas, e proibindo a instalação de tendas de reuniões, banheiros e acesso a água e energia.

Não param de chegar famílias para acampar. A última contagem numerou mais de 891 barracos e estima-se que isto corresponda a cerca de três à cinco mil pessoas (entre adultos, jovens e crianças).

Há intimidações da Construtora Modelo (http://www.construtoramodelo.com.br/) que se alega proprietária, e através de sua advogada pressionou a retirada das famílias ameaçando o uso de seu poder econômico e de relações escusas com o judiciário. Segundo a advogada Márcia Froís seu marido seria desembargador do TJMG. Mesmo assim o pedido de liminar foi negado pelo plantão do tribunal, o que demonstra a inconsistência dos argumentos da construtora.

À medida em que se aglomeram mais pessoas aumentam os problemas de higiene e saúde, já que não há saneamento, nem acesso à água e energia. A noite todos ficam no escuro, ou à luz de velas e lamparinas, o que é um risco à segurança pela possibilidade de incêndio.

A comunidade local segue apoiando, e muitos moradores tem tentado ajudar com comida, água, materiais de construção usados e outras coisas.Existe possibilidade iminente de sair um despejo no pleno do tribunal, a partir de segunda-feira, o que reforça a necessidade de ajuda à esta situação.

ATUALIZAÇÕES:

A polícia tem dado vôos rasantes de helicóptero, intimidando as famílias acampadas.
Ainda não foram solucionados os problemas de acesso à água e energia.Não há mais espaço na área de confinamento que a PMMG demarcou, mas seguem chegando famílias. Fizemos uma lista de espera que já tem 300 cadastros de famílias querendo entrar na Dandara.

*Extraído do Blog da Ocupação Dandara.
Link ao lado =>

terça-feira, 19 de maio de 2009

Manifestantes acendem 5 mil velas em protesto contra Mendes


Um grupo de cerca de 300 manifestantes protestava, por volta das 20h na noite desta quarta-feira, em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra o presidente da Suprema Corte, ministro Gilmar Mendes. Segundo os organizadores do movimento, aproximadamente 5 mil velas foram acesas diante da entrada central do edifício sede do STF para "iluminar" a postura do magistrado. Uma bandeira do Brasil foi estendida e rodeada pelos manifestantes que, juntos, gritavam: "Ô, Gilmar Dantas, assim já é demais. Saia às ruas e não volte nunca mais". Mendes e os demais integrantes do STF participavam, no mesmo momento, de uma solenidade para o lançamento de um anuário de dados judiciários.

Decisões recentes do ministro Gilmar Mendes foram lembradas no protesto, como a concessão de dois habeas-corpus para libertar o banqueiro Daniel Dantas, controlador do grupo Opportunity, preso durante a Operação Satiagraha, da Polícia Federal, que investigou crimes financeiros. "As pessoas não sabem direito o que é o Supremo, mas sabem quem é o ministro que libertou o Daniel Dantas", destacou o cientista político João Francisco Araújo, "líder do movimento".

Para Araújo, a presença das velas e dos gritos de protesto servem para "iluminar" Mendes, uma vez que "ele representa uma parcialidade que não se coaduna com a posição do Poder Judiciário".

Algumas das pessoas que protestavam estavam vestidas parodiando o símbolo da Justiça, permanecendo como uma estátua de olhos vendados e com nariz de palhaço. O estudante de Direito Caetê Beck, 23 anos, usava uma máscara cirúrgica, recentemente comum por conta do medo do vírus da Influenza A, e dizia estar protegido para "evitar a gripe suína dos porcos (do STF)". Segundo a organização do movimento, pelo menos 2 mil pessoas passaram pelo local desde o início do protesto, às 17h.

"O lugar do ministro Gilmar Mendes é se filiando a um partido político conservador e se candidatando. Ele pré-julga e antecipa posições. É um quadro de uma corrente de opinião conservadora e criminaliza os movimentos sociais", reclamou o deputado federal Chico Alencar (Psol-RJ), presente ao protesto. "Ele deveria ser como um juiz de futebol: quanto menos aparecesse, melhor", disse.

De acordo com o advogado conselheiro da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no Rio de Janeiro Aderson Bussinger, o movimento "Saia às ruas" irá entrar com uma representação no STF ainda esta semana com questionamentos sobre a eventual parcialidade do magistrado, uma suposta participação sua na campanha política do irmão, Chico Mendes, ex-prefeito da cidade de Diamantino (MT), e ainda sobre pré-julgamentos envolvendo a postura do Movimento dos Sem Terra (MST). Procurada, a OAB informou que, ao anunciar a representação, Bussinger não agia em nome da entidade.

A expressão "saia às ruas",que dá nome ao movimento, foi dita pelo ministro do STF Joaquim Barbosa durante um bate-boca com Mendes no Plenário do Supremo. Agressivo, Barbosa disse que o presidente da Corte estraga a Justiça brasileira. "Saia à rua, ministro Gilmar. Saia à rua! Faça o que eu faço. Vossa Excelência não está na rua não. Vossa Excelência está na mídia destruindo a credibilidade do Judiciário brasileiro. É isso", atacou o magistrado.

A assessoria de Mendes disse que não comentaria a manifestação e informou que o ministro já se pronunciou hoje sobre protestos contra ele. Pela manhã, ao ser questionado sobre a mobilização da sociedade contra ele, Gilmar Mendes disse: "não me incomoda de nenhuma maneira. A gente se qualifica na sociedade pelos amigos que se tem e inimigos que se cria".Durante todo o dia, o prédio central do STF estava rodeado de grades, evitando que os manifestantes pudessem se aproximar. De acordo com a segurança do Supremo, a utilização de grades ocorre sempre quando existem solenidades no térreo do edifício, sendo que parte da praça passa a ser utilizada como estacionamento para os convidados.

VEJA O VÍDEO DO MINISTRO JOAQUIM BARBOSA DESCENDO O SARRAFO NO SAFADO!
http://www.youtube.com/watch?v=sIUdUsPM2WA&feature=related

sábado, 16 de maio de 2009

Caminhoneiros enfrentam polícia com varas de bambu na Coreia do Sul

Policiais, amedrontados, tentam se proteger dos manifestantes coreanos.


sexta-feira, 15 de maio de 2009

Bascos e Catalães vaiam Rei e Hino Nacional durante final da Copa do Rei da Espanha

Os temores dos organizadores da final da Copa do Rei, de que os torcedores poderiam vaiar o Rei e ao mesmo tempo o hino espanhol, se confirmaram. Milhares de apitos foram soados enquanto os jogadores estavam formados para a execução. Mas quem acompanhou o jogo pela TV não pode assistir à atitude dos torcedores de Athletic de Bilbao e Barcelona, já que o canal (estatal) espanhol responsável pela transmissão não mostrou esse momento.

Ao longo da semana, grupos separatistas bascos e catalães fizeram campanhas discutindo violencia contra a autonomia dos povos praticada pelos governos da Espanha e pedindo que as pessoas participassem da grande vaia ao hino espanhol, ao Rei e toda a sua Corte no estádio Mestalla, em Valência. Os dois grupos querem que suas regiões se tornem autonomas e independentes de Espanha e França. No momento da execução, a televisão fez uma conexão para mostrar como estavam os torcedores nas cidades de Bilbao e de Barcelona.

Em comunicado emitido pelo canal TVE, responsável pela transmissão, explicou que não houve imagens “por um erro humano”. O locutor do canal se desculpou com o público e, durante o intervalo, foram mostradas imagens de alguns poucos torcedores que se comportaram durante o acontecimento. O caso culminou na demissão do chefe de Esportes da TVE, Julián Reyes.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Os professores levam mais uma paulada do Governo de São Paulo

( encaminhado para a seção de Debates da Folha de São Paulo - não será publicado)



No dia 6 de maio ficamos sabendo que o Estado de São Paulo abrirá 50.000 cargos efetivos para professores da rede estadual e criará a jornada de trabalho de 40 horas, permitindo ao professor cumprir toda a sua carga horária numa mesma unidade escolar.

Sem dúvida, duas medidas que deixam a nós, os educadores, muito contentes, já que tendem a acabar com o professor temporário e possibilitar que as escolas consolidem uma equipe de trabalho cooperativo de longo prazo e maior envolvimento docente com o projeto pedagógico da escola. Certamente são decisões que propiciam a melhora da qualidade do trabalho escolar.

No entanto, as notícias não terminam aí. Para nossa surpresa será criada uma Escola de Formação de Professores do Estado de São Paulo para ‘formar’ os docentes que forem aprovados no concurso. Isto é, só terá direito a dar aulas quem passar no curso de 4 meses na Escola. Portanto, não será suficiente ter sido aprovado no concurso.

Estamos frente a uma situação no mínimo esquisita, porque parece que o governo do Estado de São Paulo está abrindo um concurso para selecionar os melhores candidatos no qual nem ele acredita. Ou será que o governo parte do pressuposto de que a formação docente no Brasil é ruim? Ou, ainda, de que os futuros professores da rede paulista precisam de um doutrinamento para poder utilizar ‘corretamente’ as cartilhas no lugar de exercer responsável e criativamente a sua profissão?

Não seria mais adequado implementar ações que tornem a profissão docente bem mais atraente o que, sem dúvida, qualificaria a demanda? O que aconteceria se no lugar de inventar mais instâncias de seleção e de enquadramento se pensasse em melhorar os salários e em oferecer condições de trabalho dignas para um profissional que é responsável pela educação de nossas crianças e jovens?

Se a motivação real de todas estas mudanças é oferecer melhores condições institucionais para a aprendizagem dos alunos, sem dúvida a implementação de políticas de melhora real das condições de trabalho dos professores permitiriam também a reflexão coletiva sobre alguns aspectos bastante espinhosos, mas necessários para discutir a qualidade do ensino na escola pública. Um deles são os critérios de alocação dos docentes que, frente à necessidade de não dificultar ainda mais a vida do professor, não levam suficientemente em conta as necessidades institucionais e do público alvo.

Outra questão é a necessidade de repensar o formato do concurso público para professor de ensino básico. O argumento do governo de São Paulo para a implantação de uma segunda prova de seleção após o curso de qualificação é que a prova administrada no concurso é muito teórica. Nesse caso, pensar na reformulação do concurso para professor de ensino básico de forma que contemple a diversidade de competências necessárias para o bom desempenho docente, tais como conhecimento na área especifica de ensino, dos fundamentos educacionais, competência didática, etc., pode ser um começo de uma tentativa de melhorar as condições de seleção.

Por último e mais uma vez a formação continuada volta à tona. A Escola de Formação de Professores do Estado de São Paulo pretende focar a prática num curso massivo de 360 hs. para 10.000 professores no começo e posteriormente 50.000, o que implica que uma parte considerável de carga horária seja oferecida a distância. O debate sobre a deficiente qualidade da educação tem enfatizado a importância da melhora da formação básica e continuada dos docentes de todos os níveis de ensino. Ainda que o êxito da educação escolar é resultado de um processo de múltiplas variáveis e que não pode ser reduzido de forma leviana à responsabilidade do professor, sem dúvida a formação de ‘formadores’ se enfrenta hoje a múltiplos desafios. Mas, também não se pode reduzir de forma leviana estes desafios à necessidade de um mero treinamento que, além de bastante custoso, nada indica que possa chegar a ter um efeito significativo na sua atuação profissional.

Além disso, o governo de São Paulo retoma a proposta de submeter os professores temporários, que hoje representam 40% da rede, a uma prova anual. E os que não forem aprovados serão encostados em algum lugar dos estabelecimentos escolares, para não descumprir a lei.

Se for verdade que o exemplo educa, sem dúvida a atitude do governo do Estado está dando às novas gerações um péssimo exemplo de respeito aos outros. Mais uma vez os trabalhadores vão carregar nos ombros as conseqüências de políticas públicas antidemocráticas implementadas no Estado de São Paulo nas últimas décadas. Novamente, não seria mais adequado acabar de uma vez com a figura do docente temporário e implementar políticas sistemáticas de aperfeiçoamento profissional no lugar de contaminar o clima escolar com atitudes pouco respeitosas e discriminatórias?

Estas e outras medidas compõem o Programa + Qualidade na Escola do Estado de São Paulo que, lamentavelmente, mais uma vez desqualifica a imagem do professor. Como pretender assim que os jovens nos respeitem?



Nora Krawczyk

Professora Doutora da Faculdade de Educação/Unicamp, coordenadora do Grupo de Pesquisa Políticas Públicas e Educação (GPPE) na Pós-Graduação da Faculdade de Educação/Unicamp, Pesquisadora do CNPq, co-autora, entre outros livros de “A Reforma Educacional na América Latina nos anos 90: Argentina, Brasil, Chile e México”, editora Xamã, 2008

terça-feira, 5 de maio de 2009

VIRADO (conto)

Uma porra! Essa Virada Cultural é uma merda. Pura violência, pura sacanagem com a gente. Por quê? Porque a gente num é gente, a gente não é nada, entendeu? A gente é o lixo, o excremento da sociedade. A gente é pra ficar aí, jogado, sujo, sem ter lugar pra tomar banho, sem ter o que comer, sem ter onde cagar nem dormir. A gente é pra ficar invisível. A gente num devia nem existir na face das ruas, porque a gente incomoda. A gente é o avesso da sociedade, do sucesso, do consumo. Tá ligado? Tudo bem, uma hora a gente aceita, se acostuma com isso. Faz o possível pra não aparecer, se pede alguma coisa faz com vergonha como se pedir fosse errado, como se estivesse roubando. Tem que agüentar bacana tirar nóis de pinguço, cachaceiro e outros pano. De dia, só humilhação: empurra-empurra, correria, gente gritando. É nóis aqui largado, sem vida, sem amigo, sem trabalho, sem dinheiro, sem nada. Fazendo um biquinho aqui, catando umas latinha ali, uma correria acolá, esmolando. A gente sobrevivendo. E de tarde vem a noite: o breu, a solidão, o apagar do sol e o abandono. A fome e o frio. Rasgando a barriga, cortando o sono. As vezes, só muita cachaça na cabeça, senão não tem jeito. É foda. A gente sofre pra caralho nessas madruga aqui, meu irmão. Você não tem noção. Mas então, um belo dia, vem essa porra da Virada. Que merda é essa Virada, cara? Esse mar de gente zanzando no nosso espaço. Show pra lá e pra cá. Barulho, treta, pegação. Sodoma e gomorra, pura orgia. E gente bêbada. Gente zuada, travando as quatro pata. Pode olhar, só gente lôca, alucinada. A mais pura degradação do ser humano. Tá aqui. O pior do ser humano tá aqui. E não tô falando da gente. É um que bebe, é um que fuma, é outro que fode, outro que cheira. E assim vai, chapando até o osso. Até perder a mão, perder o juízo. Encostar em alguma porta de loja, de bar, e cair. Apagar e dormir. Coma. Overdose. Tipo aquele filha-da-puta ali. O que caiu do meu lado. Do meu lado, é mole? Começou a vomitar, o viado. Golfar. Jogado no chão e golfando. Não saía nada, só uma água preta, tipo de fossa. O cara mal, zoado. Você acha que alguém socorreu? Que nada. Pode morrer alguém aqui no meio que ninguém faz nada. Passavam ainda é com uma tiração, dando risada. “Ê, é pra bebê, caí, levanta, não é pra bebê, caí e fica, não.” E pega sapato, dá chute na barriga, pisão na cara. O mano lá, sem reação. Só chamando o Hugo, malzão. O filha-da-puta do meu lado. Tive que pegar meu papelão, minha sacola e sair fora. Ia acabar sobrando pra mim. Isso que é foda. Não agüento, essa putaria. Ninguém respeita o sono dos justos, meu irmão. Ninguém. Não basta no breu dessas madrugada, um monte de morador de rua que é morto com facada, paulada; paralelepípedo na cabeça, vem essa porra de Virada. Ninguém dorme. Uns playboy forgado que vem, grita na cabeça, joga água, cerveja, vinho na nossa cara e some. Querem pega nossas coisas, bota fogo. Tudo em nome da diversão. Diversão pra quem, caralho? Cês acham que tem o direito de vir aqui, tocar esse puteiro, acorda nóis, ficar se fingindo de nosso amigo enquanto tá bêbado, chamando, encostando, abraçando, dizendo que a gente não precisa só de pão, tem que aproveitar a cultura, que a vida não é tão dura e depois vão embora, mostrando pra gente a porta da rua? Deixando pra gente só os vômito, as parede com cheiro de mijo e essas montanha de lixo? Vai pro inferno, porra. Virada Cultural o caralho. Pra nóis essa porra é tudo uma merda. Pura politicagem, lavagem de dinheiro. Sacanagem. A vida segue, e hoje esses corno que tão me abraçando, tudo querendo dançar comigo, amanhã vão passar aqui e fingir que nem me viram. Fingindo que eu nunca existi. Vão pra casa, repousar no gostoso, dormir no quentinho, e a gente continua aqui. Fudido. Rezando pro prefeito acabar com essa bosta de evento e usar melhor o dinheiro público quando for pensar em investir.