quinta-feira, 16 de junho de 2011

Os pequenos tiranos e a educação no Amazonas




No dia 14 de Junho, cerca de 300 alunos da Escola Estadual Professor Sebastião Augusto Loureiro Filho, localizada no bairro Santa Etelvina, na zona Norte de Manaus, promoveram uma manifestação contra a atual gestora da escola, acusando-a de desvio de merenda, homofobia e maus tratos para com alunos. Pedagogos e alguns professores juntaram-se aos alunos da escola para pedirem providencias da Secretaria Estadual de Educação quanto às acusações. A secretaria reproduz como verdade a afirmação da gestora dizendo que 1/3 dos 900 alunos da escola estão sendo utilizados como massa de manobra por uma pedagoga insatisfeita e por um professor faltoso. A secretaria afirma que ainda estudará a situação e, caso as denuncias se confirmem, a gestora, cargo de indicação política, poderá ser afastada de suas funções. Porém, se no entender dos tecnocratas da secretaria, as reivindicações dos professores, funcionários, pedagogas e alunos não forem relevantes, estes poderão ser punidos. Punidos por exercer o principio constitucional da liberdade de expressão?
Eu como professor da Rede Municipal de Ensino de Manaus digo que esta situação poderia estar ocorrendo em grande parte das escolas, municipais e estaduais, que existem em nosso estado. Gestores incompetentes, arrogantes e autoritários é a regra e não exceção nas escolas publicas do estado e do município. Apadrinhamento político e submissão às vontades dos tecnocratas educacionais são os pré-requisitos básicos para se tornar gestor em nossas escolas, enquanto, na maioria das escolas do país, os responsáveis por estes cargos são eleitos democraticamente pela comunidade escolar. Professores, pedagogos, alunos, pais e funcionários escolhem de dois em dois anos através do voto direto um responsável por trabalhar pelas demandas da comunidade escolar junto ao poder público. Aqui estas figuras, na maioria dos casos, garotos de recado dos tecnocratas, só estão preocupadas em maquiar a situação caótica das escolas, repletas de alunos desrespeitosos (e desrespeitados), professores e pedagogos (quando tem) desmotivados e nem um pouco cativantes e gestores incompetentes, arrogantes e autoritários.
Na minha escola, Plínio Ramos Coelho, localizada na zona Leste de Manaus, a situação é calamitosa. Como na escola da diretora “homofóbica”, minha escola recebeu de presente no início do ano letivo um gestor novo e uma obra. Ele está até hoje caindo de pára-quedas e a obra já esta precisando de reparos! A escola não ofereceu livros didáticos aos alunos, constantemente os alunos são liberados por falta de merenda, não temos pedagogos para nos auxiliar, não existe laboratório de informática, a pequena biblioteca criada pela antiga gestora funciona mais como deposito de livros,... Enfim, podemos falar que a única coisa que funciona em nossa escola é o livro de ponto. A nossa motivação para dar aula é esta: desconto em nossa já tão descontada folha de pagamento.
Ao Invés da Seduc ameaçar com punições aos envolvidos na manifestação deveria homenageá-los pela demonstração de compromisso com a construção de uma educação mais justa, horizontal e plural, onde pais, alunos, professores e funcionários participem da detecção dos problemas e nas formulações de alternativas. Não precisamos de tecnocratas com cheiro de ar condicionado para pensar a escola e a educação por nos. Podem pensar com nós,não em nosso lugar.
Fica aqui mais do que meu apoio a estes professores, pedagogos, funcionários e alunos, fica minha admiração, respeito, agradecimento e orgulho em ver que nem todos abaixam a cabeça frente aos pequenos tiranos que infestam nossas escolas. Que este exercício de cidadania possa ser a chama que incendiará os corações e mentes daqueles que ainda tem esperança em uma educação libertadora, voltada para a construção de um novo tipo de sociedade, mais solidária, responsável e livre.
Wander Lúcio Mourão Junior, professor de geografia e artes da Escola Municipal Plínio Ramos Coelho.
Manaus, 15 de junho de 2011

terça-feira, 22 de março de 2011

Desde os tempos de escola

Desde meus tempos de escola, essa instituição voltada ao modelamento de humanos para o mercado de trabalho, eu não entendia o porquê deu estar ali. Me lembro nitidamente de uma situação em que na sétima série, eu estava mais uma vez na sala dos professores, após ser expulso de sala, e uma coordenadora me perguntou:

Lucas, você não se cansa de vir aqui?

E eu logo respondi:- Não, aqui é melhor que na sala, e como eu não quero ficar naquela sala o tempo todo, não me importo de passar um tempo aqui.

Aquilo claro chocou todo mundo, mas na minha cabeça pré-adolescente, eu estava simplesmente contestando uma situação à qual eu me via desde que me lembrava por gente. Não concordava em estar ali, e ninguém nunca tinha me dado uma resposta digna de me conformar. Era sempre algo do tipo, "a escola vai te preparar para o mercado" , "se você não estudar como vai passar no vestibular?", "sem estudo você vai ser um Zé ninguém". O argumento nunca era voltado a dizer, bem você aqui na escola vai ter amigos, vai crescer como ser humano e vai aprender muitos valores, que na rua você não aprenderia. Claro que esses valores, são a única coisa que aprendi, pois o conteúdo se foi no emaranhado de informação que meu cérebro ao longo dos anos fora bombardeado. Não lembro nada de matriz, equação de segundo grau, nem de teoremas. Lembro sim que tenho que chegar cedo a aula, não posso me atrasar, tenho que respeitar a hierarquia, e aceitar as coisas apenas para um dia poder aposentar. Desde a escola já se pensa na aposentadoria. É sempre me diziam, a escola é a melhor época da vida, depois fica pior. Poxa, na minha cabeça infantil não tinha como ficar pior. Eu era forçado a estar ali sentado, ouvindo uma carocha qualquer, simplesmente para ser preparado como mão de obra para que nossa sociedade sempre evolua num ritmo sem nexo.

Bem partindo agora para o erro principal de tal conjunto e ao qual nunca se contesta. A universidade. Meus professores, como disse antes, simplesmente diziam que se eu não estudasse, não passaria no vestibular. Mas o que é isso? Nos meus dozes, treze anos eu não fazia idéia do que era vestibular, universidade, pra mim era um mundo distante ao qual só ia gente grande e eu não queria estar lá, pois onde tem gente grande, criança não tem vez. E assim, com a educação voltada única e exclusivamente para assegurar uma vaga na universidade, fui moldando minha vida a ponto de no ensino médio, desistir de tamanha loucura coletiva que se instaurava no colégio, onde diziam, se você não fizer um bom ensino médio você não vai passar no vestibular, e ai o que você vai ser da vida?

Bem nesse momento eu escolhi ser técnico em informática, e sai de uma escola conceituada o Magnum, para estudar no Cotemig, que tinha outro modelo político-pedagogico, esse voltado muito mais a formar profissionais para o mercado, não importando o aprendizado das matérias que caem no vestibular. Felizmente pra mim, consegui fazer o ensino técnico, e me formar como técnico em informática, e logo depois passar no vestibular. Fiz cursinho 1 ano, junto de vários colegas do Magnum, que não passaram direto, e que não tinha portanto um diploma de técnico como eu. Estava à frente na concorrência pelo mercado, mas eu tinha que entrar numa universidade, pois é o modo de ascensão social diríamos mais famoso, e fácil. Se faz engenharia, medicina para ficar rico. Ninguém quer ser professor, por que isso não da dinheiro, e de que adianta ter entrado em um universidade se você não vai ganhar dinheiro? A concorrência é desleal. Enquanto você passa 4, 5 anos dentro da universidade, montando um currículo cheio de estágios, seu concorrente de mercado, já atua como profissional na área há 5 anos, e tem muito mais experiência que você. Bem experiência é muito mais importante que conhecimento, pois é mais valorizada em qualquer área. Esse funil de pessoas com ensino superior, tem aumentado, mas de nada adianta, pois quem detem o poder ainda são os com mais tempo de estudo. Antigamente os bacharéis eram os principais homens do país, hoje são os pós doutores. E o reuni insiste em agregar pessoas no ensino superior, sem se preocupar em melhorar a qualidade do ensino, e ai a Faculdade deixou de ser um local onde a pessoa se realizava quanto pensador de algo e descobridor de um mundo muito mais complexo, e virou continuidade da escola.

E ai, o que minha professora em 2000 me dizia, continua fazendo todo sentido. Se eu não estudar na escola não poderei estudar numa universidade, e pra que ir pra uma universidade que imita a escola? Hora, para me adequar melhor, ter mais técnica, e poder entrar no mercado mais qualificado, com um pequeno diferencial. Sem experiência.

O que penso sobre tudo isso? Que ainda continuamos a criticar o estado que deixa a escola publica em péssimas condições, para formar apenas mão de obra simples e pouco qualificada, necessária a deixar os baixos salários como estão. E quando nossa critica se volta a uma universidade que não deixa de ser uma reprodução do estado e do mercado, criticamos o ponto final de uma longa história. A escola básica é que deveria ser mudada, e ela vem sendo. Mas de forma completamente bárbara. Muda-se a escola pública que se torna uma formadora de homens, cidadãos. Enquanto a particular continua a copiar os modelos que a universidade pede, alunos que passa no vestibular, e se formam como técnicos. Enquanto os cidadãos se fodem na sociedade, os tecnocratas enriquecem. Uma desigualdade sem fim, caminhos diferentes, famosa maldade. Essa maldade é fácil de ser entendida, já diziam As Meninas, no seu clássico ‘Bom Xibom Xibom Bom Bom’, “ é que o de cima sobe e o de baixo desce.”

Pensar diferente é também agir diferente, e pensando em táticas de mudança é necessário pensar em ações. Uma dica, surgida em conversar com a galera, é a de intervenções rápidas nas escolas. Não quero ser um professor que passará a vida toda se frustrando no método atual de ensino, porque eu não concordo e nunca concordei com a Escola. A idéia é pegar desgninações, curtas, 3, 4 meses, e fazer dinâmicas com a sala de aula em que você estiver atuando. Dinâmicas voltadas a contestar o modelo hierárquico, as relações de poder entre professor aluno, e também entre aluno-aluno. Fazer os alunos verem que existem outras formas de se aprender, uma outra educação é possível, e porque seguir algo que no fundo só os transformara em zumbis?

Mudar é difícil, mas não impossível, já dizia o grande Paulo Freire. Várias pessoas fazendo dinâmicas e mudando comportamento da galera, em um curto período, poderia simplesmente em um prazo de alguns anos, transformar o pensamento dos estudantes, que são simplesmente os que menos tem voz. Muito se critica sobre a postura dos professores, mas e os alunos? Os alunos não fazem a menor idéia do que tá acontecendo, e uma luz para eles, pode mudar todo um contexto. Se alguém me desse essa luz nos anos 2000, poderia ter mudado muito minha vida. Fingir que nada acontece é fácil, mas agir e tentar mudar exige esforço e trabalho, e ai bora trabalhar!

No dia que a educação for voltada simplesmente para se formar pessoas, o mundo será um lugar melhor! Simples assim!

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Meninas de 11 anos treinam com fuzis e granadas em escolas

A tradição militarista da Rússia parece garantida por várias gerações. Escolas militares no maior país do mundo estão deixando meninas de 11 anos íntimas de fuzis, pistolas e granadas.


Um dos centros de treinamento patriótico se dá nos arredores de Moscou. Lá, acredita o premier Vladimir Putin, será forjado um novo modelo de cidadão para a nova Rússia. E ele deve ter motivos de sobra para estar confiante: exemplo de dedicação, a aluna Nastya Grechyshnikova, de 11 anos, ficou em êxtase ao manipular um fuzil AK-47 pela primeira vez.


"Ele é muito pesado. Preciso deixar os meus braços mais fortes e fortalecer os músculos para usá-lo. Preciso de dois dedos para puxar o gatilho", contou a filha de policial, conforme reportagem do "Sun".
Muito do êxtase de Nastya, que não viveu o clima sombrio da Guerra Fria, vem da recente vitória russa no conflito contra a Geórgia. Putin espera capitalizar o triunfo, incentivando o recrutamento e a lapidação de novos líderes. As meninas são escolhidas depois de testes rigorosos. Na escola, além de se tornarem experts em armamentos, as alunas são treinadas duramente em autodefesa e no combate a terroristas. Maquiagem é proibida; celular só uma vez por semana, para que elas falem com os pais - geralmente para contar suas façanhas com fuzis Kalashnikov e pistolas Makarov.
"Alguns veteranos da Segunda Guerra vieram nos ver recentemente. Eles estavam interessados em conhecer o que estamos estudando e nos contar sobre aquele período. Os alemães não tinham piedade de ninguém, nem de crianças, mulheres e idosos. Não quero que isso aconteça de novo", disse Nastya.
Fonte: O Globo!

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Do poder da repressão, a repressão ao poder.

Não Pode!

Essa foi a expressão mais ouvida no Encontro Regional de Estudantes de Geografia no ultimo final de semana na UNICAMP. Dita pelos seguranças da empresa Fortknox, que no seu site afirma: "Qualidade é a palavra de ordem na Fort Knox e um esforço permanente de todos os colaboradores da empresa. O Sistema de Gestão da Qualidade implantado segue a Norma NBR ISO 9001:2000 e busca garantir agilidade, eficiência e qualidade aos serviços e produtos oferecidos pela empresa." Agilidade comprovada pelos estudantes de geografia presente no encontro. As inumeras proibições que existem na UNICAMP, faz com que os seus seguranças tercerizados, trabalhem com muito empenho, para manter a ordem que o regulamento interno da universidade impõe. Não se pode fazer nada dentro da universidade. No regulamento, Artigo 227 está descrito o que NÃO se pode fazer:

I. praticar atos definidos como infração pelas leis penais, tais como calúnia, injúria, difamação, rixa, vias de fato, lesão corporal, dano, desacato, jogos de azar;
II. manter má conduta na Universidade ou fora dela;
III. promover algazarra ou distúrbio;
IV. cometer ato de desrespeito, desobediência, desacato ou que de qualquer forma, importe em indisciplina;
V. fazer uso de substâncias entorpecentes ou psicotrópicas, ou de bebidas alcoólicas
VI. proceder de maneira considerada atentatória ao decoro;
VII. recorrer a meios fraudulentos, com o propósito de lograr aprovação ou promoção;
VIII. praticar manifestações, propaganda ou ato de caráter político-partidário ou ideológico, de discriminação religiosa ou racial, de incitamento ou de apoio à ausência aos trabalhos escolares.

Dentre todas as proibições, os estudantes foram inumeras vezes importunados pelos seguranças, que surgiam a todo instante, demonstrando que estavam ali para não deixar nada acontecer. Mas eles tiveram a desagradavel surpresa de que os estudantes pouco estavam se importando para eles. Sem poder de reação, e vendo que nada podiam fazer a não ser dizer que não podia, eles aos poucos foram desistindo.

Quando acendemos uma fogueira, vieram instantanemente apaga-la, dizendo NÃO PODE, mas ao serem questionados, a unica resposta que eles conseguiam dizer era NÃO PODE. Sem argumentos, e com mais de 300 estudantes a sua volta, eles foram vendo que aquela batalha de repressão aos estudantes que nada de mal faziam, a não ser se divertir, esquentar do frio, ou como no caso do churrasco de domingo, COMER, era inutil, pois para todos os estudantes, aquelas proibições sem sentido , nao passavam de uma mera diversão. Ver os seguranças encabulados com a situação se tornou um divertimento para todos, que riam toda vez que ouviam mais um NÃO PODE, que ressoava pelo campus, a cada atitude, ato, gesto dos estudantes. Sem argumentos não havia como reprimir, a não ser usando a força, e isso não seria feito, pois com tanta gente disposta a não obedecer as ordens de esvaziamento da UNICAMP, eles não arriscariam agir dessa forma. Apenas anotavam as ocorrencias e diziam que encaminhariam para o reitor. Assim como na UFMG em 2006, quando o EREGEO se tornou o camping mais caro do país, com a surreal multa aplicada pela reitoria aos organizadores de R$50.000,00 por dia de ocupação, as ameaças da segurança entravam em um ouvido e saia pelo outro, e tudo continuava acontecendo como bem queriamos. Ao ser questionado um dia por um segurança que ja aceitando o fato de que seu poder não exsitia, respondi a questão feita por ele, sobre o porque de não respeitarmos o seu poder. Disse que da mesma forma que eles usavam o poder para nos repreender, nos ignoravamos esse poder, que pra nós não existe. Os estudantes são o principio da universidade, e a segurança era apenas algo que nos impedia de estarmos ali. Respeitando as normas eticas, e sem vandalismo, não havia motivos para a segurança vir nos repreender, mas ela como uma empresa com excelencia no assunto, ficou sem saber o que fazer. Disse ao segurança que seu trabalho era importante para nos proteger de possiveis "marginais" que poderiam entrar no campus, e que eles não deviam nos temer, mas simplesmente nos ignorar. Foi o que aos poucos foi acontecendo com alguns deles, que foram no fim se divertindo com a nossa repreensão ao poder que eles queria impor. Eramos o seu circo, e como palhaços, corriamos de um lado para o outro, acendendo fogueiras, fazendo churrasco, dormindo nas gramas e praças, coisas que no dia a dia da UNICAMP não mais existe.

A UFMG tentou a alguns anos atrás fazer o mesmo que a unicamp, com seus seguranças tercerizados, com as proibições de festa, de venda de cerveja, de fogueiras, mas como continuamos a fazer tudo NaTora, aos poucos as imposições foram ficando apenas no papel, e hoje em dia graças aos alunos que outrora não se sentiram reprimidos pelo poder, a UFMG ainda possui as festas, fogueiras e tudo mais que são proibidos simplesmente sem nenhum argumento contra. Sem argumento, quem pensa não aceita, e assim o poder é reprimido por si próprio, já que para se oprimir sem usar a força é preciso usar a inteligencia, que as vezes falta na universidade, que sonha um dia domar todos os cordeirinhos que ali estão para 'estudar'.

Viva a vida NaTora!!!

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Grupo Votorantim causa desastre ecológico em Minas Gerais




“Cheguei em Três Marias em 1951, com 11 anos de idade. Eu vendia pão na rua. Um dia, vi um cardume de peixes no rio e decidi tentar pescar alguma coisa. No primeiro dia peguei uma corvina de dois quilos. O preço que consegui por ela era igual a tudo que eu ganhava vendendo pão durante um mês! Aqui era um paraíso para os pescadores”.


Esse é o início da história do pescador Norberto dos Santos. A região de Três Marias, onde o rio São Francisco representa a principal fonte de vida e sustento da população, tem sido explorada por fortes interesses econômicos, principalmente pela atuação da siderúrgica Votorantim Metais, do grupo Votorantim, comandado pelo empresário Antônio Ermírio de Moraes.

Norberto conta que, “em 1969, a Votorantim começou a funcionar. Foi o maior desastre ecológico que já vi. Matou tudo, até barata d’água morreu. A empresa jogava os resíduos no córrego Consciência, que ia direto pro rio. De 1969 até 1990, todos os anos era essa tragédia. Os peixes morriam por asfixia porque não tinha oxigênio. A água ficava vermelha de tanto resíduo. Em 1997 estourou um cano na empresa e morreram 50 toneladas de peixes. A partir de 2004, começaram a morrer os “nobres” do São Francisco, que são os surubins. Até surubim de 90 quilos apareceu morto! De 2004 a 2008, nós calculamos que perdemos no mínimo 5 mil exemplares de matrizes reprodutoras. São fêmeas que pesam uns 40 quilos e cada uma tem 4 quilos de ovos, com 2 mil ovos por grama. No total calculamos que devem ter morrido 100 toneladas de surubim. E continuam morrendo.”

O pescador Moisés dos Santos conta uma história semelhante. “Nasci na beira do São Francisco. Sou filho de pescador e minha família vivia da pesca. Mas a chegada da Votorantim afetou todo o ecossistema. Nós dependemos do rio para sobreviver”.







Estudos comprovam contaminação

Os resultados de diversos relatórios técnicos confirmam índices altíssimos de contaminação por metais pesados na água, sedimentos e peixes. Um relatório do Sistema Estadual de Meio Ambiente (SISEMA - MG) constatou que o nível de zinco nas águas do córrego Consciência, afluente do São Francisco que recebe dejetos da Votorantim, atinge o alarmante índice de 5.280 vezes acima do limite legal. O Cádmio apresenta uma quantidade 1140 vezes acima do permitido, o chumbo 46 vezes e o cobre 32 vezes acima do limite legal.

Sobre a morte de peixes, o relatório do SISEMA concluiu que isto ocorre porque "O efluente da Companhia Mineira de Metais ou Votorantim Metais em estado coloidal, ós diluição pelas águas do rio São Francisco, deposita-se nas guelras dos peixes na forma de película impermeabilizante, provocando morte por asfixia. Esta hipótese é viável, pois a ção de zinco e outros metais pesados tem sido mais elevada nas partes dos peixes. hipótese, seria o acúmulo destes elementos na cadeia alimentar, fenômeno que seria quando da ocorrência de concentrações muito elevadas de zinco nas águas, acelerando processo de intoxicação."




Sem controle ambiental

Além dos laudos técnicos, qualquer pessoa pode constatar a presença de metais nas margens do rio. Navegando no córrego Consciência, é possível coletar resíduos tóxicos no solo de suas encostas. De 1969, quando a empresa começou a funcionar, até 1983, quando foi construída a primeira barragem de contenção de resíduos, não houve nenhum controle ambiental. Mesmo após esse período, não houve um controle eficaz da poluição.

“As barragens que foram feitas para conter a contaminação estão na beira do rio e não são impermeabilizadas. Além disso, essas barragens têm bombas que jogam os resíduos diretamente no rio. Nossos poços artesianos estão contaminados. Dependemos de caminhão pipa porque não temos água potável. O tamanho da destruição é incalculável. Mas, além da empresa, eu culpo também os órgãos ambientais, que não fazem nada. Só mandam o batalhão de choque para fiscalizar os pescadores”, explica Norberto.

Exames realizados pela Fundacentro na população local constataram contaminação por arsênio, manganês e zinco. “É muito sofrimento pra gente que vive na beira do rio. Os olhos e o nariz ardem tanto que parece pimenta. Vem aquela poeira cor-de-rosa e a boca fica seca, às vezes até ferida. Irrita a pele e resseca o cabelo. A gente não pode beber a água do rio e nem lavar roupa. Agora meus filhos não podem viver da pesca. Vão fazer o quê? É o fim do mundo”, conta Maria dos Santos, moradora da região.

Cleide de Almeida, que mora em uma ilha no local, explica que, “as hortas morreram, tinha muita fruta antes, mas as árvores morreram. Até a água subterrânea está contaminada. A Votorantim acabou com muita coisa. Quando desce o minério pela encosta do rio fica um cheiro ruim e mata as plantas. Até os peixes vivos ficam fedendo. Quando bate o vento do lado da empresa, dá tanta tosse que não tem remédio que cure. Tem menino novo encostado, que pegou câncer e se aleijou trabalhando pra empresa. E o Antonio Ermírio é o homem mais rico do Brasil! Coitado do rio, não tem dó. Tem que tratar dele desde aqui. E imagina que esse rio vai até Pernambuco”!

Maria Luisa Mendonça

enviada especial a Três Marias (MG)

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Ato manifesto contra a Votorantim em Três Marias MG


Somos pescador (a)s, vazanteiros (as) trabalhadore(a)s sem terra, operário(a)s e estudantes. Por ocasião do Dia e da Semana do Rio São Francisco, vimos de vários municípios de sua Bacia manifestar a nossa indignação e a nossa revolta diante da VM - Votorantim Metais, em Três Marias - MG.



1. Esta empresa é a principal responsável pela poluição do Rio São Francisco com metais pesados. Desde final de 2004 já morreram 200 toneladas de peixes, principalmente surubins adultos, contaminados por rejeitos tóxicos lançados pelo processamento de zinco da Votorantim Metais. Os pescadore(a)s e as populações ribeirinhas têm sido os maiores prejudicados por essa tragédia, mas também a sociedade em geral e o meio ambiente.



Relatórios e análises químicas de órgãos ambientais mostram que água, sedimentos e peixes apresentam índices alarmantes de contaminação por metais pesados, muitas vezes acima dos permitidos pelo CONAMA – Conselho Nacional de Meio-Ambiente: zinco – 5.280 vezes; cádmio – 1140; cobre – 32; chumbo – 42.



A VM começou a operar em 1969 e por 14 anos lançou seus rejeitos diretamente no rio. Somente em 1983 foi construída uma barragem de contenção de rejeitos. Mas, para facilitar a vida da empresa, a barragem foi construída na barranca do rio! Os metais pesados, através da infiltração, continuaram a se acumular no leito do rio. Hoje existe no fundo do rio um metro e meio de lama tóxica. Quando as comportas da barragem de Três Marias são abertas essa lama é revolvida contaminando ainda mais a água e os peixes.



A poluição industrial da VM sempre esteve no cerne da contaminação das águas do Rio São Francisco. Por isso, os órgãos ambientais – os que não se vendem – exigiram a desativação da primeira barragem. Uma segunda foi construída pela empresa, mas de forma irregular, desrespeitando normas técnicas exigidas pelos órgãos ambientais . Continuou ocorrendo infiltração e a segunda barragem também foi reprovada. Em 2005 a empresa comprometeu-se em construir uma terceira barragem e cumprir mais 25 Termos de Ajustes de Conduta. A poluição continua, e não se tem informação sobre o cumprimento dos termos.



2. Estamos aqui também protestando contra a transposição do Rio São Francisco. A obra, em construção pelo Exército, é apresentada pelo Governo Lula como solução para os problemas de falta d’água na região semi-árida. Grande mentira! A transposição atende aos interesses de grandes empresas construtoras, como a VM, e do agronegócio da irrigação para exportar frutas, etanol de cana, camarão, etc. As necessidades do povo são apenas discursos para legitimar o projeto e convencer o povo a pagar depois a conta da água, das mais caras do mundo. Não à Transposição. Conviver com o Semi-Árido é a Solução!



3. Nossa luta é também por Soberania Alimentar. Nesta primeira semana de outubro, no mundo inteiro, há mobilizações em defesa da produção dos alimentos pelas comunidades locais, contra as empresas transnacionais do agronegócio produtor de alimentos em monoculturas, com agrotóxicos e adubos industrializados, transformando a comida em mercadoria, contribuindo para o aumento da fome no mundo.



4. Denunciamos a CEMIG, pela abertura das comportas da usina de Três Marias para possibilitar os passeios turísticos do barco a vapor Bejamim Guimarães, e em época de outros eventos para camuflar a realidade do rio poluido, degradado e minguante. Com a súbita liberação das águas, muitas plantações dos vazanteiros são destruídas, a consequência é mais fome.



Exigimos das autoridades responsáveis soluções definitivas destes graves problemas. Da Votorantim Metais cobramos o cumprimento dos acordos por ela firmados, principalmente a retirada da lama tóxica do fundo do rio e a indenização aos pescadores!

São Francisco Vivo – Terra, Água, Rio e Povo!

Por Reforma Agrária, Justiça Social e Soberania Alimentar e Energética!

Água e Energia Não São Mercadoria! .

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Chico de Oliveira é lançado (anti) candidato a reitor da USP

Conhecido por suas opiniões contundentes a respeito da política brasileira, o professor Chico de Oliveira teve lançada nesta
quarta-feira (9) sua (anti) candidatura a reitor da Universidade de São Paulo (USP).

Apesar do apoio do Sindicato dos Professores da USP e do Diretório Central de Estudantes, o docente não tem pretensões de chegar à administração central da maior universidade brasileira. A Associação dos Docentes da USP (Adusp) tem como política não apoiar candidatos enquanto não for alterado o atual sistema

O professor tem algumas razões. Primeiro porque já foi "vítima" da aposentadoria compulsória, que atinge os que têm mais de 70 anos no serviço público. e também porque, diz o professor, jamais concordaria em sentar-se na cadeira de reitor com a atual estrutura ostentada pela USP.

Sua candidatura, além de protesto à ausência de eleições diretas para reitor, pretende colocar em discussão a convocação de uma Estatuinte que promova uma redemocratização da universidade.

Em entrevista à Rede Brasil Atual, ele afirma que a atual reitora, Suely Vilela, não tem ideia da importância da instituição que comanda e culpa o governo paulista – liderado há uma década e meia pelo PSDB – pelo processo de “privatizar pelas bordas” o ensino universitário do estado.

O autor de “Crítica à razão dualista” afirma que o sistema universitário público brasileiro é uma façanha por estar presente em todos os estados, mas lembra que a USP tem vários aspectos de seu célebre estudo “O ornitorrinco”.

Resumido de forma simplista, o estudo de Chico de Oliveira mostra que o Brasil está na metade do caminho evolutivo, com características conflitantes entre o desenvolvimento e a mais absoluta desigualdade – daí o ornitorrinco, que não é nem mamífero, nem anfíbio.

RBA – O principal de sua candidatura é chamar atenção para as eleições diretas?
Chico de Oliveira - É chamar atenção para o processo de democratização mais ampla da USP. Eleição direta pode ser um elemento para isso, mas nossa intenção é abrir uma discussão sobre a universidade, que está muito relegada pela própria sociedade e se debate sozinha dentro dela. Evidentemente, as forças que têm mais poder controlam o processo.

Por que a USP não conseguiu caminhar no sentido da democratização, não só de eleições diretas para reitor, mas da estrutura como um todo?

O paradoxo é que a USP é muito poderosa. Primeiro, tem um orçamento muito importante, que talvez seja maior que o de parte dos estados brasileiros. Ela não é pouca coisa. Depois, é a principal universidade brasileira na produção de conhecimento. Isso é muito bom para os cursos que controlam a universidade. É uma grife muito poderosa e é isso que as fundações privadas estão fazendo dentro da USP: com um trabalho barato de pesquisadores, funcionários e até mesmo estudantes. Essa estrutura de
poder é muito interessante para eles todos.

Que avaliação o senhor faz da gestão da reitora Suely Vilela?

Desde o princípio, é muito desastrosa. Eu participei na greve de 2007 de uma comissão de professores que quase se autonomeou. Não havia mais diálogo. A Adusp estava “escanteada” do processo e a reitora não recebia os funcionários. Então, nós nos autonomeamos e fomos ao gabinete dela. É impressionante como ela não conhece a universidade da qual é reitora. E este ano foi pior. Ela não impediu a polícia de entrar.

Não sabe da grandiloquência da USP para o Brasil. A USP forma docentes, pesquisadores, professores para todo o país, não só para São Paulo. Há estudantes que vêm aqui com bolsa para fazer mestrado, doutorado, pós-doutorado. Já nem se precisa ir ao exterior fazer um pós-doutorado. Essa é a importância que a reitora não percebe.

Quando a Polícia Militar invadiu o campus, em junho, houve rapidamente uma mobilização contra a atitude. Mas vieram as férias e aparentemente houve uma perda para a discussão. Esse é um reflexo da sociedade dentro da USP?

O refluxo é natural pelas férias, que desmobilizam mesmo. Depois, para remobilizar sem o calor da hora é muito difícil. Mesmo assim, os estudantes estão parcialmente mobilizados e os funcionários estão muito
mobilizados. O movimento é menor entre os docentes.

É claro que a USP reflete muito o que se passa fora dela. Há um certo refluxo geral dos movimentos sociais do qual a universidade dificilmente escaparia.

Essa baixa mobilização docente, ainda que não seja novidade, a que se atribui?

O clássico aforismo de Kennedy: “a vitória tem muitos pais. Só a derrota que é órfã”. O que há, na verdade, é um sucesso do ponto de vista profissional. Esse sucesso do ponto de vista profissional desmobiliza para dentro da universidade. As grandes unidades da USP são unidades de êxito. A Faculdade de Medicina está entre as mais importantes do país. A Faculdade de Direito forma os advogados mais caros do Brasil. Há a Politécnica, que é uma grande escola, de pesquisa técnica muito interessante. E há as unidades menores, que são menos interessantes do ponto de vista do que se chama mercado.

Então, essas grandes unidades já não se mobilizam porque são unidades de muito êxito profissional. As unidades menores e menos prestigiadas são importantes, mas ninguém presta atenção a elas. A Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) é uma espécie de matriz da universidade. Hoje ela é muito fraca do ponto de vista dos recursos que tem, do poder dentro da USP. Eu sou professor, aposentado, da unidade de Ciências Sociais. Essa unidade não tem um auditório digno do nome. Todas
as salas de aulas péssimas, no geral, porque aquele prédio foi feito por alguém que não gosta nem de estudante, nem de professor nem de funcionário. É muito desigual a distribuição de poder dentro da universidade e o prestígio que a sociedade confere a cada unidade.

Se levarmos em conta o estudo do senhor “O ornitorrinco”, quais os aspectos mais evidentes dentro da USP?

Esse, por exemplo, das desigualdades dentro da universidade. Ela é muito segmentada. Você tem o Conselho Universitário, que é onde os professores têm todo o poder, e estudantes e funcionários têm uma representação apenas simbólica. Esse é um caso de ornitorrinco.

O Brasil construiu um sistema universitário público que é quase único no mundo. Você tem universidade pública do Amazonas ao Rio Grande do Sul varando todos os estados. Isso foi feito num país que saiu do escravismo e que foi o único das Américas a criar sua universidade só no século XX. Apesar desse esforço, agora queremos entregar barato essa enorme façanha. É uma façanha ter um sistema vigoroso. Queremos privatizar, e privatizar pelas bordas, de forma bastante perversa.

O governo estadual, que vai completar 16 anos, tem qual papel nessa privatização?

Tem um papel muito importante – e negativo. Esse senhor governador tem uma atitude perante à universidade que é bastante negativa. Ele não cita constantemente, nem é citado constantemente, mas é professor da Unicamp. Deve fazer 30 anos que não dá uma aula, mas é professor. Foi acolhido e deram a ele esse posto. Não parece.

O senhor Paulo Renato (/atual secretário de Educação de São Paulo/), que foi ministro da Educação, foi reitor da Unicamp. Fernando Henrique Cardoso é formado pela USP no tempo da mítica Maria Antônia. Parece que eles odeiam a universidade onde eles estudaram. Foi onde se alçaram para a vida pública e agora parece que odeiam. Eu confesso que não entendo qual é essa birra que têm com a universidade pública. Deveriam se orgulhar dessa façanha.

A universidade é o patamar a partir do qual o país pode fazer sua independência técnica e científica. A prioridade que se dá à
universidade é lastimável.