terça-feira, 10 de março de 2009

manifesto antiismo (agora sem hífen??)


Manifesto anti-ismo

Cristianismo, islamismo, judaísmo, budismo, hinduísmo. Socialismo, comunismo, anarquismo, situacionismo. Sionismo, anti-semitismo, nazismo, fascismo. Capitalismo, vegetarianismo, consumismo, humanismo. Individualismo, coletivismo. Realismo, surrealismo, expressionismo, dadaísmo, pós-modernismo.
A lista de ismos é interminável. Porque a humanidade tem valorizado tanto essa particula? Acreditamos que seja por causa de um outro ismo: o dogmatismo.
O ser humano ainda não conseguiu se desvencilhar dos Deuses. Precisamos sempre de um guia transcendental, de uma moral absoluta que nos indique um caminho seguro. Caminho seguro? Para onde? Os fins são os mais variados possíveis. Talvez a explicação para a doença dos ismos esteja bem aí, nos fins: cada ismo é apropriado individualmente para justificar uma vida vazia de sentido. Abrigam-se sobre eles as angústias de se viver sozinho no mundo, vindo de não-sei-onde, indo para não-sei-onde. Não-sei-por quê. Em cada comunidade ilusória, sustentada pelas mais diversas ideologias, o pequeno animal humano, acuado em seu íntimo, encontra algo que parece ser maior que ele, independente de sua vontade, transcendente. Se identifica ao ser supremo e se coloca sob sua proteção. Identifica aí os "irmãos" e os "infiéis". Aí o peso do mundo sob suas costas fica mais leve, pois agora tem uma muleta divina para se apoiar. Sacrifica sua vontade para não ter que suportar a idéia de que pode escolher seu próprio caminho, viver como criador de si. Todo dogmatismo é um pouco de covardia.
E agora vejamos algumas das feridas abertas por essa doença. A primeira são nossas modernas religiões monoteístas (monoteísmo). Quantas mortes, torturas, auto-flagelo e guerras
foram detonados por elas? Pensemos nas cruzadas, na jihad, na santa inquisição, nos tchandala hindus, na negação da vontade pregada pelo budismo. Em pleno século XXI ainda podemos ver o ódio e a vontade de dominar escondidos sob disfarces divinos. Se mata por cristo ou por Alá, e em todos estes atos se acredita estar obedecendo a um desígnio sobre-humano.
A segunda ferida, é a ferida política. Milhões de judeus esmagados pela maquina nazista. Outros milhões de "contra-revolucioná rios" mortos por Stalin e Mao em nome do comunismo. Cada uma destas ideologias se via como a única salvação para a humanidade, seus líderes eram Jesus na cruz, apontando o caminho para a verdade. E esta ferida está mais aberta do que nunca. Apoiados na raça ou na ideologia, grupos e povos vem se agredindo e se odiando mutuamente. Passemos rapidamente o olhar sobre um grande ismo: o Marxismo. Ainda hoje, leninistas-trotskis tas, leninistas-stalinis tas e maoístas se acusam mutuamente de reformistas, contra-revolucioná rios, traidores. E todos abominam em conjunto os anarquistas, que por sua vez, abominam todo mundo. Isso para não falar das incontáveis correntes teóricas que se debatem pelos espólios do pensamento marxiano. Pobre Marx, que em vida se dizia não-marxista.
A terceira ferida é indolor. Ainda que possa ter causado uma ou outra agressão, a coisa não passa muito das revistas, bares e galerias. Falo aqui dos movimentos artísticos. Uma das formas de expressão do humano vem através da arte. Na arte, seu instinto criador, tão reprimido em outras esferas, encontra um canal para manifestar-se. O problema é que, novamente, a ânsia de verdade, do absoluto, vem à tona. O artista super-valoriza sua obra, e se vê, assim como Hitler, como o redentor estético da humanidade. E atrás dele vem as hostes não-criativas para venera-lo e imortaliza-lo. Assim, o pobre instinto criador se vê mais uma vez reprimido. Atualmente, no tempo da arte-mercadoria, a coisa desandou de vez. Um ismo substitui o outro com velocidade cada vez maior, enquanto os próprios artistas, agora profissionalizados, perdem a capacidade de comunicar qualquer coisa que seja. Os mais críticos limitam-se a comunicar que já não existe mais comunicação. Estão ai os pós-modernistas que não nos deixam mentir.

A última ferida que vamos apresentar, é uma ferida nova. São os novos-ismos, que vem na hora certa para salvar todo dogmatismo do passado, no momento de sua crise. Muito já se falou sobre "o fim das grandes narrativas", a "crise do pensamento" e etc. Já que não existem mais as grandes narrativas, que tal substituí-las por milhares de pequenas narrativas? Humanismo, vegetarianismo, preservacionismo, ativismo e toda uma série de pós-ismos vem agora em socorro da verdade dogmática. Só que estes novos-ismos estão condenados já em seu berço. Não tem mais a força das grandes religiões e das grandes ideologias. Seu brilho pálido só consegue fascinar pequenos grupos que se multiplicam sem cessar. Na intenção de sermos positivos (não positivistas) , podemos enxergar o fato como a crise final de todos os ismos. Assim como o mito perdeu sua força ao ser dessacralizado e fragmentado pela burguesia, uma quantidade infinita de pequenas verdades pode bem destruir o mito da verdade.
O leitor deve estar se perguntando o que queremos com este manifesto. Seria então instaurar um novo ismo, o antiismismo? De maneira alguma. Não se trata de rejeitar absolutamente nenhum destes ismos. O absoluto é exatamente o que combatemos. Podemos aprender mesmo com aquilo que julgamos pior. O marxismo, por exemplo, não é algo que deva ser jogado no lixo, Marx foi um legítimo homem de seu tempo, um criador, e por isso arranjou um rebanho tão grande e tão mediocre. O que nos importa é reconhecer os instintos e idéias que estão por trás destes ciclopes absolutos. Reconhecer que, seja qual for o fim que é anunciado, os resultados não estão nunca garantidos, e as intenções estão sempre dissimuladas, mesmo para aqueles que professam a pretensa verdade. E que nos protejamos aqui de um outro ismo: o relativismo. Julgar que tudo é igual só pode levar-nos á inércia e a confusão.

O que reivindicamos aqui (podem chama-la de "nossa verdade") é que o ser humano se liberte de seu passado, sua identidade, suas verdades eternas e absolutas. Cada um de nós é um universo, ou um abismo. Nada pode ser transmitido, nenhuma idéia pode ser imposta. Nossa linguagem, metafórica por natureza, já é uma prova de que vivemos apenas como criadores, ainda que tenhamos aprendido a sublimar muito bem esse nosso instinto. Eu posso dizer o que penso, concordar, discordar, reavaliar. Queremos ser compreendidos, nunca seguidos. Queremos interlocutores (mortos ou vivos), mas nunca seguidores. Então essa é a nossa verdade e nosso dogma: viver como criadores ou morrer como animais de rebanho.

Um comentário:

  1. que texto ruim Ze!

    tipo... generalista, reducionista, umbiguista...

    Burp! hehe

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