domingo, 8 de março de 2009

Fechar escolas itinerantes é atacar a escola pública



O professor da faculdade de educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Roberto Leher, criticou o fechamento de escolas itinerantes do MST, no Rio Grande do Sul. De acordo com o Ministério Público gaúcho, as escolas não funcionavam como deveriam, especialmente no que diz respeito ao conteúdo ensinado. Para Leher, isso é uma censura ao pluralismo na escola pública.

Para o professor, só a perseguição política que o MST está sofrendo no estado explica este fechamento, uma vez que as críticas educacionais não fazem sentido.

“O maior equívoco é não compreenderem que uma escola pública, se ela é de fato do povo, ela tem que ser uma escola que dialogue e interaja com o protagonismo social. A escola pública, para que ela seja pública, ela tem que incluir todas as pessoas. Eles estão impedindo que os cidadãos possam expressar o seu ponto de vista e, sobretudo, possam ser sujeitos e protagonistas da organização do público. Isto é um ato de violência, que tenta silenciar a existência do movimento sem terra”.

Segundo Leher, a educação pública brasileira passa por uma crise por não conseguir interagir com crianças e jovens. E a pedagogia utilizada pelo MST e desenvolvida por Paulo Freire tem o mérito de aproximar a escola da vida real das pessoas.

Um conjunto de educadores elaborou um documento criticando o fechamento das escolas itinerantes, que será entregue ao governo estadual, ao Ministério Público e à Assembléia Legislativa, todos do Rio Grande do Sul. O documento ainda será entregue às entidades acadêmicas e sindicais com intuito de se criar um movimento nacional em defesa das escolas itinerantes.

Contêiner vira sala de aula


Além de rever colegas, o primeiro dia de aulas na Escola Estadual de Ensino Fundamental Ismael Chaves Barcellos, em Galópolis, na região de Caxias do Sul (RS) serviu para que cerca de 200 alunos conhecessem as novas salas: contêineres de metal alugados pelo Estado. Parte do colégio foi atingida por um incêndio em setembro e, como não há previsão de quando a reforma será feita, a solução encontrada pelo governo foi o improviso. A escola tem quase 500 alunos.

No dia 3 de setembro um incêndio atingiu uma sala que servia como depósito junto à biblioteca, no primeiro andar, e a escada de madeira que dá acesso ao segundo piso. Como a escada foi interditada, não foi mais possível utilizar o segundo pavimento. Até o final do semestre passado, os estudantes das salas atingidas tiveram aula no antigo cinema de Galópolis. Mas o espaço era inadequado: não havia pátio para brincadeiras e duas turmas dividiam o mesmo ambiente sem paredes que os isolassem.

Ontem, no primeiro dia de aula, oito turmas, quatro pela manhã e outras quatro à tarde, tiveram como novo endereço os contêineres instalados no pátio em frente ao prédio da escola. Pela manhã, os alunos de duas 5ªs uma 4ª e uma 7ª estão no local. Na parte da tarde, os pequenos de duas 3ªs, um 3º ano (equivalente à 2ª série) e um 2º ano (equivalente à 1ª série) são os estudantes das salas de metal. O prédio de um andar formado pelos contêineres tem um corredor que divide duas salas para cada lado. O teto é de zinco. Cada sala, toda revestida com forro PVC, mede 6 x 7 metros, totalizando 42 metros quadrados. Os espaços têm três janelas basculantes de um lado e duas de outro e são iluminados por seis conjuntos de fluorescentes. Cada turma tem entre 20 e 29 alunos. Segundo a Secretaria Estadual de Educação, o custo mensal do aluguel é de R$ 9,5 mil. O contrato para 180 dias totaliza R$ 57 mil.

A preocupação da diretora, Sonia Beatriz Sbersi, é com dias de sol, que trarão muito calor às salas metálicas. Dias de chuvas forte também devem causar barulho que atrapalhará as aulas. "Fechei a porta no começo da aula, mas não deu para ficar fechada – diz a professora Lucimar Albeche."
A professora Vainer Formolo, 57, dá aula para 29 estudantes em uma das salas-contêineres. "A vantagem é que isola a acústica. Mas é muito abafado".



*Manifesto em defesa da reabertura e de uma melhor infra-estrutura pública da Escola Itinerante do MST-RS*





A governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crucius, e parte direitista do Ministério Público do estado estão golpeando as Escolas Itinerantes do MST no Rio Grande do Sul, decretando o banimento dessas instituições educativas. O ato de proscrever essa inspiradora iniciativa educativa do MST é parte do processo de criminalização e de expulsão do MST do estado, conforme vem sendo denunciado pelas entidades democráticas de dezenas de países.



Para proteger os latifúndios e as corporações, em especial as de celulose, Yeda e seus aliados querem cortar o que julgam ser o "mal pela raiz": a educação das crianças, dos jovens e dos adultos que estão acampadas há anos, pois nada é feito em prol da reforma agrária. A governadora quer silenciá-los.



Os camponeses foram expropriados de suas terras pelo poder do grande capital e nenhuma alternativa econômica lhes foi possibilitada. É por isso que as bandeiras do MST tremulam à beira das rodovias que ladeiam os latifúndios destrutivos. Dignamente os camponeses resistem lutando pela democracia que, para ser verdadeira, não pode prescindir dos meios econômicos que assegurem condições de vida humana. E as Escolas Itinerantes são parte desse processo civilizatório.



As Escolas Itinerantes do MST são espaços de conhecimento, criação, socialização com base em valores ético-políticos libertários e democráticos. São espaços públicos de formação humana, de crítica e de renovação do pensamento pedagógico brasileiro e latino-americano. Estudiosos de diversos países as investigam e as difundem por meio de teses, artigos, experiências de educação popular, propagando ideais pedagógicos originalmente sistematizados e difundidos por Paulo Freire. As Escolas Itinerantes são lugares que estão propiciando reflexões que permitem construir um melhor futuro para a educação pública, gratuita, laica e autônoma frente aos interesses particularistas e mesquinhos como os professados pelo atual governo estadual.



Exigimos a imediata reabertura das Escolas Itinerantes acompanhadas pelo MST, bem como a garantia de que o poder público assegurará a infra-estrutura necessária ao pleno funcionamento das mesmas. Os signatários do presente Manifesto estarão acompanhando as ações do governo estadual nos sindicatos, nas escolas, nas universidades, nas lutas sociais, promovendo denúncias e atos políticos até que as escolas voltem às crianças, aos jovens e aos professores que nelas atuam.



Carlos Walter Porto-Gonçalves – UFF

Eduardo Galeano – Escritor (Uruguai)

Emir Sader – UERJ, Secretario Executivo do CLACSO

Gaudêncio Frigotto – UERJ

Ivana Jinkings –Editora Boitempo

Marcelo Badaró - UFF

Roberto Leher – UFRJ

Virgínia Fontes - UFF e Fiocruz

Zé Ninguém- Filosofo, Psicogeografo, Artesão, Musico, Poeta, jogador de futebol, ator, desempregado e em crise.



Adesões: http://www.Petition Online.com/ 05032009/





Manifesto dirigido para:


Yeda Crusius: governadora@ gg.rs.gov. br; Ministério Público: pgj@mp.rs.gov. br; Assembléia Legislativa - Presidente Ivar Pavan (PT): ivarpavan@al. rs.gov.br
c/c: MST RS: mstrs@mst.org. br

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