No dia 14 de Junho, cerca de 300 alunos da Escola Estadual Professor Sebastião Augusto Loureiro Filho, localizada no bairro Santa Etelvina, na zona Norte de Manaus, promoveram uma manifestação contra a atual gestora da escola, acusando-a de desvio de merenda, homofobia e maus tratos para com alunos. Pedagogos e alguns professores juntaram-se aos alunos da escola para pedirem providencias da Secretaria Estadual de Educação quanto às acusações. A secretaria reproduz como verdade a afirmação da gestora dizendo que 1/3 dos 900 alunos da escola estão sendo utilizados como massa de manobra por uma pedagoga insatisfeita e por um professor faltoso. A secretaria afirma que ainda estudará a situação e, caso as denuncias se confirmem, a gestora, cargo de indicação política, poderá ser afastada de suas funções. Porém, se no entender dos tecnocratas da secretaria, as reivindicações dos professores, funcionários, pedagogas e alunos não forem relevantes, estes poderão ser punidos. Punidos por exercer o principio constitucional da liberdade de expressão?
Eu como professor da Rede Municipal de Ensino de Manaus digo que esta situação poderia estar ocorrendo em grande parte das escolas, municipais e estaduais, que existem em nosso estado. Gestores incompetentes, arrogantes e autoritários é a regra e não exceção nas escolas publicas do estado e do município. Apadrinhamento político e submissão às vontades dos tecnocratas educacionais são os pré-requisitos básicos para se tornar gestor em nossas escolas, enquanto, na maioria das escolas do país, os responsáveis por estes cargos são eleitos democraticamente pela comunidade escolar. Professores, pedagogos, alunos, pais e funcionários escolhem de dois em dois anos através do voto direto um responsável por trabalhar pelas demandas da comunidade escolar junto ao poder público. Aqui estas figuras, na maioria dos casos, garotos de recado dos tecnocratas, só estão preocupadas em maquiar a situação caótica das escolas, repletas de alunos desrespeitosos (e desrespeitados), professores e pedagogos (quando tem) desmotivados e nem um pouco cativantes e gestores incompetentes, arrogantes e autoritários.
Na minha escola, Plínio Ramos Coelho, localizada na zona Leste de Manaus, a situação é calamitosa. Como na escola da diretora “homofóbica”, minha escola recebeu de presente no início do ano letivo um gestor novo e uma obra. Ele está até hoje caindo de pára-quedas e a obra já esta precisando de reparos! A escola não ofereceu livros didáticos aos alunos, constantemente os alunos são liberados por falta de merenda, não temos pedagogos para nos auxiliar, não existe laboratório de informática, a pequena biblioteca criada pela antiga gestora funciona mais como deposito de livros,... Enfim, podemos falar que a única coisa que funciona em nossa escola é o livro de ponto. A nossa motivação para dar aula é esta: desconto em nossa já tão descontada folha de pagamento.
Ao Invés da Seduc ameaçar com punições aos envolvidos na manifestação deveria homenageá-los pela demonstração de compromisso com a construção de uma educação mais justa, horizontal e plural, onde pais, alunos, professores e funcionários participem da detecção dos problemas e nas formulações de alternativas. Não precisamos de tecnocratas com cheiro de ar condicionado para pensar a escola e a educação por nos. Podem pensar com nós,não em nosso lugar.
Fica aqui mais do que meu apoio a estes professores, pedagogos, funcionários e alunos, fica minha admiração, respeito, agradecimento e orgulho em ver que nem todos abaixam a cabeça frente aos pequenos tiranos que infestam nossas escolas. Que este exercício de cidadania possa ser a chama que incendiará os corações e mentes daqueles que ainda tem esperança em uma educação libertadora, voltada para a construção de um novo tipo de sociedade, mais solidária, responsável e livre.
Wander Lúcio Mourão Junior, professor de geografia e artes da Escola Municipal Plínio Ramos Coelho.
Manaus, 15 de junho de 2011
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