domingo, 29 de março de 2009

Coletivo Autonomo "Nóis inverga mas num cai" convida:


Pessoas, colegas, amigos, parentes...

Para quem não se lembra, quinta-feira proxima faz um ano que a Policia Militar de Minas Gerais invadiu o prédio do IGC na UFMG pra impedir a exibição do subversivo filme Grass-Maconha.

então como não poderia deixar de ser quinta estaremos exibindo o mesmo filme e mais alguns filmes afins... esperamos que desta vez possa acontecer o debate que naquele dia não pode ser realizado devido à intervenção das forças policiais a mando da corja mineira, comandada por Aécio Cheira Neve e sua fiel comparsa Heloisa Stálin.

Esta atividade faz parte da preparação para a realização da Marcha da Maconha em Belo Horizonte, que no ano passado foi proibida de ser realizada pela "Justiça".

quem tiver na disposição aparece lá.

PROGRAMAÇÃO

11:30- exibição da entrevista de FHC onde ele fala sobre a legalização da maconha.

12:00 - microfone aberto para intervenções poéticas, musicais e performaticas com venda de breja a quase preço de custo.

17:10 exibição do documentário "noticias de uma guerra particular".

18:00 exibição do documentario "grass"

19:00 roda de conversa com maconheiros da mais alta estirpe sobre os fimes e sobre como agilizar os preparativos pra marcha: advogados, grana, material de divulgação, contatos, midia....

21:00 mais um NATORA especial.

Traga seu instrumento, sua cachaça, sua alegria, a revolta e a disposição.

Local: Arena do Instituto de Geociencias/UFMG e imediações.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Teoria da deriva

Entre os diversos procedimentos situacionistas, a deriva se apresenta como uma técnica ininterrupta através de diversos ambientes. O conceito de deriva está ligado indissoluvelmente ao reconhecimento de efeitos da natureza psicogeográfica, e à afirmação de um comportamento lúdico-construtivo, o que se opõe em todos os aspectos às noções clássicas de viagem e passeio.

Uma ou várias pessoas que se lançam à deriva renunciam, durante um tempo mais ou menos longo, os motivos para deslocar-se ou atuar normalmente em suas relações, trabalhos e entretenimentos próprios de si, para deixar-se levar pelas solicitações do terreno e os encontros que a ele corresponde. A parte aleatória é menos determinante do que se crê: no ponto de vista da deriva, existe um relevo psicogeográfico nas cidades, com correntes constantes, pontos fixos e multidões que fazem de difícil acesso à saída de certas zonas.

Mas a deriva, em seu caráter unitário, compreende o deixar levar-se em sua contradição necessária: o domínio das variáveis psicogeográficas pelo conhecimento e o cálculo de suas possibilidades. Concluído este último aspecto, os dados postos em evidência pela ecologia, ainda sendo a priori muito limitado o espaço social que esta ciência propõe estudar, não deixam de ser úteis para apoiar o pensamento psicogeográfico.

A análise ecológica do caráter absoluto e relativo de cortes do conjunto urbano, o papel dos micro-climas (zonas psíquicas), das unidades elementares completamente distintas dos bairros administrativos, e, sobretudo da ação dominante dos centros de atração, deve utilizar-se e completar-se com o método psicogeográfico. O terreno apaixonantemente objetivo em que se move a deriva deve definir-se ao mesmo tempo de acordo com seus próprios determinismos e com suas relações com a morfologia social.

Chombart de Lauwe, em seu estudo sobre Paris et l’agglomération parisienne (Biblioteca de Sociologia Contemporânea, PUF 1952) assinala que “um bairro urbano não está determinado somente pelos fatores geográficos e econômicos, mas sim pela representação que seus habitantes e os de outros bairros têm dele”; e apresenta na mesma obra – pra mostrar “a estreiteza de Paris em que se vive cada indivíduo... um quadro geográfico é sumamente pequeno” –, o traçado de todos os percursos efetuados em um ano por uma estudante do distrito XVI, desenha um triângulo reduzido, sem fugir dele, cujos ângulos estão a Escola de Ciências Políticas, a casa da jovem e a de seu professor de piano.

Não há duvida de que tais esquemas, exemplos de uma poesia moderna capaz de trazer conseguem reações vivas e afetivas, – neste caso a indignação de poder viver desta forma – inclui a teoria, avançada por Burgess no caso de Chicago, da repartição das atividades sociais em zonas concêntricas definidas, e isto tem de servir ao progresso da deriva.

O acaso joga na deriva um papel tanto mais importante quanto menos estabelecido esteja à observação psicogeográfica. Mas a ação do acaso é naturalmente conservadora e tende, em um novo marco, reduzir tudo à alternativa de um número limitado de variáveis, e ao cotidiano. A não ser o progresso, a superação de algum dos marcos em que o acaso atua mediante a criação de novas condições mais favoráveis a nosso destino, se pode dizer que os acasos da deriva são essencialmente diferentes dos do passeio, correndo o risco de que os primeiro atrativos psicogeográficos que descubram, determinem ao sujeito ou ao grupo que deriva ao redor de novos eixos habituais, os quais lhe fazem voltar constantemente.

Uma desconfiança insuficiente com respeito ao acaso e o seu emprego ideológico, sempre reacionário, condenou a um triste fracasso o famoso perambular sem destino tentado em 1923 por quatro surrealistas partindo de uma cidade escolhida ao acaso: vagar em campo ao relento é deprimente, evidentemente, e as interrupções do acaso são mais pobres que nunca. Mas certo Pierre Vendryes leva a imprudência muito mais longe em Medium (maio 1954) crendo poder adicionar a esta anedota – já que tudo isso participaria de uma mesma libertação antideterminista – algumas experiências probabilísticas sobre a distribuição aleatória de girinos em um cristalizador circular, por exemplo, cuja conclusão precisa: “semelhante multidão não deve sofrer nenhuma influência direta do exterior”. Nestas condições lavam os girinos na palma da mão, pois que estes têm a vantagem de estar “tão desprovidos como é possível de inteligência, de sociabilidade e de sexualidade”, e conseqüentemente “são verdadeiramente independentes um dos outros”.

Em oposição a estas aberrações, o caráter principalmente urbano da deriva, em contato com os centros de possibilidade e de significação que são as grandes cidades transformadas pela indústria, respondem melhor a frase de Marx: “Os homens não podem ver ao seu redor mais que seu rosto; tudo lhes fala de si mesmo. Até suas paisagens estão animadas”.

Pode-se derivar só, mas tudo indica que a divisão numérica mais produtiva consiste em vários grupos pequenos de duas ou três pessoas que chegaram a um mesmo estado de consciência; a análise conjunta das impressões destes grupos distintos permitirá chegar a conclusões objetivas. É preferível que a composição dos grupos troque de deriva uma com a outra. Com mais quatro ou cinco participantes o caráter próprio da deriva decresce rapidamente, e em todo caso é impossível superar a dezena sem que a deriva se fragmente em várias derivas simultânea. Diga-se de passagem, que a prática desta última modalidade é de grande interesse, mas as dificuldades que implicam não têm permitido organizá-la com a amplitude desejável até o momento.

A duração média de uma deriva é a jornada considerada como o intervalo de tempo compreendido entre dois períodos de sono. São indiferentes os pontos de partida e chegada no tempo com respeito à jornada do sol, mas deve assinalar-se, contudo que as últimas horas da noite são geralmente inadequadas para a deriva.

Esta duração média da deriva só tem um valor estatístico, sobretudo porque raramente se apresenta real, já que não se podem evitar os interessados, ao princípio ou ao final da jornada, distrair uma ou duas horas para dedicá-las a ocupações banais; ao final do dia o cansaço contribui muito com este abandono. Além do mais a deriva se desenvolve a miúdo em certas horas fixadas casualmente, ou inclusas deliberadamente durante breves instantes ou pelo contrário durante vários dias sem interrupção. Apesar das paradas impostas pelas necessidades de dormir, algumas derivas bastante intensas tem se prolongado três ou quatro dias, e até mais. É certo que, no caso de uma sucessão de derivas durante um período suficientemente longo, é quase impossível determinar com precisão o momento em que o estado mental próprio de uma deriva determinada deixa lugar à outra. Tem-se prosseguido uma sucessão de derivas sem grandes interrupções durante cerca de dois meses, o que supõe trazer novas condições objetivas de comportamento que implicam à desaparição de muitas das antigas.

A influência de variações climáticas sobre a deriva, ainda que real, não é determinante mais que em casos de chuvas prolongadas que a impedem absolutamente. Mas as tempestades e outras precipitações são até propícias.

O campo espacial da deriva será mais ou menos vago ou preciso segundo a busca do estudo do terreno ou resultados emocionalmente desconcertantes. Não há o que se descuidar, já que estes dois aspectos da deriva apresentam múltiplas interferências, e que é impossível isolar um deles em estado puro. Finalmente o uso de táxis, por exemplo, pode apontar uma pedra de toque bastante precisa; se no curso de uma deriva pegar um táxi, seja com um destino preciso ou para deslocar vinte minutos para o oeste, é que optamos, sobretudo pela desorientação pessoal. Se nos dedicarmos à exploração direta do terreno é que preferimos a busca de um urbanismo psicogeográfico.

Em todo caso o campo espacial está implícito, em primeiro lugar, nas bases da partida construídas para os indivíduos isolados por suas casas e por lugares de reunião escolhidos para os grupos. A extensão máxima do campo espacial não supera o conjunto de uma grande cidade e suas adjacências. Sua extensão mínima pode reduzir-se a uma pequena unidade de ambiente: só um bairro, ou inclusive um quarteirão se valer à pena (no limite extremo está a deriva estática de uma jornada sem sair da estação Saint Lazare).

A exploração dum campo espacial fixado supõe por tanto o estabelecimento das bases e o cálculo das direções de penetração. Aqui intervem o estudo de mapas, tanto de correntes como ecológicas ou psicogeográficas, e a retificação ou melhora dos mesmos. Pode-se assinalar que a escolha de um bairro desconhecido em si, jamais percorrido, não intervem no resultado? Diferente de sua significância, este aspecto do problema é completamente subjetivo, e não subsisti por muito tempo.

Na “ocasião possível”, a parte da exploração é pelo contrário mínima comparada com a do comportamento desorientador. O sujeito é convidado a dirigir-se só, em uma hora marcada a um lugar que lhe fixe. Acha-se livre das pesadas obrigações do cotidiano, já que não tem nada a esperar. Sem, no entanto, ter levado esta “ocasião possível” inesperadamente a um lugar que pode não conhecer, observa os arreadores. Podem dar-se ao mesmo tempo outra “ocasião possível” no mesmo lugar com alguém cuja identidade não é previsível. Pode inclusive não tê-lo visto nunca, o que o incita a conversar com alguns transeuntes. Pode não encontrar nada, ou encontrar por acaso algo que o tenha fixado à “ocasião possível”. De todas as formas, sobretudo se o lugar e a hora foram bem escolhidos, o emprego do tempo e do sujeito terá uma mudança imprevisível. Pode inclusive pedir por telefone outra “ocasião possível” a alguém que ignora onde lhe foi conduzido a primeira vez. Há recursos quase infinitos para este passatempo.

Assim, o modo de vida pouco coerente, e inclusive com certas brincadeiras consideradas de mau gosto, que tem sido sempre censurada em nosso ambiente, como, por exemplo, introduzir-se de noite no chão das casas em demolição, percorrerem Paris sem parar em pontos de ônibus durante uma greve de transportes, para agravar a confusão fazendo-se conduzir aonde for, ou perder-se nos subterrâneos das catacumbas proibidas ao público, revelaria um sentimento que seria a deriva ou não seria nada. O que se pode escrever só serve como produto deste grande jogo.

O ensino da deriva permite estabelecer os primeiro quadros das articulações psicogeográficas de uma cidade moderna. Além do reconhecimento de unidades de ambiente, de seus componentes principais e de sua localização espacial, se percebe seus eixos principais de caminhos, suas saídas e suas defesas. Chega-se assim à hipótese central da existência de placas giratórias psicogeográficas. Medem-se as distâncias que separam efetivamente os lugares de uma cidade que não têm relação com o que uma visão aproximativa de um plano urbano poderia perceber. Pode-se compor, com ajuda de mapas velhos, de fotografias aéreas e de derivas experimentais, uma cartografia influencia que faltava até o momento, e cuja incerteza atual, inevitável antes que se tenha cumprido um imenso trabalho, não é maior que a das primeiras descrições, com a diferença de que não se trata de delimitar precisamente áreas dum continente, mas sim de transformar a arquitetura e o urbanismo.

As diferentes unidades da atmosfera e de moradia não estão, hoje em dia, exatamente demarcadas, sem aproximar-se dos limites mais ou menos extensos. O maior ganho que propõe a deriva é a diminuição constante desses limites, até sua supressão completa.

Na arquitetura, a inclinação à deriva leva a anunciar todo tipo de novos labirintos que as possibilidades modernas de construção favorecem. A imprensa disse em março de 1955 sobre a construção em Nova York de um edifício onde se pode perceber os primeiros sinais de possibilidade de deriva no interior de um apartamento:

“As pequenas habitações da casa helicoidal terão a forma de uma fatia de bolo. Poderão aumentar-se ou reduzir-se à vontade deslizando paredes móveis. A disposição dos pisos em níveis evitará a limitação do número de cômodos, podendo o inquilino pedir que lhe deixem utilizar o nível superior ou o inferior. Este sistema permitirá transformar em seis horas três apartamentos de quatro cômodos em um de doze ou mais”.

(Continuará)

Guy Debord, 1958.

Texto publicado no nº. 2 da revista Internacional Situacionista em dezembro de 1958.
Segunda tradução (espanhol – português) por membros do Gunh Anopetil em 19 de março de 2006.

Anti-Copyright: A cópia ou a publicação desse material é permitida e incentivada. Copiem. Desviem.

terça-feira, 24 de março de 2009


"Detesto, de saída, quem é capaz de marchar em formação com prazer ao som de uma banda. Nasceu com cérebro por engano; bastava-lhe a medula espinhal."

Albert Einstein

segunda-feira, 23 de março de 2009

Trecho "Assim Falava Zaratustra"


Ainda em algumas partes há povos e rebanhos; mas entre nós irmãos, entre nós há Estados.

Estado? Que é isso? Vamos! Abri os ouvidos, porque vos vou falar da morte dos povos.

Chama-se Estado o mais frio dos momentos. Mente também friamente, e eis que mentira rasteira sai da sua boca: “Eu, o Estado, sou o Povo.”

É uma mentira! Os criaram os povos e suspenderam sobre eles uma fé e um amor, esses eram criadores: serviam a vida.

Os que armam ciladas ao maior numero e chamam a isso Estado são destruidores; suspendem sobre si uma espada e mil apetites.

Onde há ainda povo não se compreende o Estado, que é detestado como uma transgressão aos costumes e às leis.

Eu vos dou este sinal: cada povo fala uma língua do bem e do mal, que o vizinho não compreende. Inventou a sua língua para os seus costumes e suas leis.

Eu vos dou este sinal: cada povo fala uma língua do bem e do mal, que o vizinho não compreende. Inventou a sua língua para os seus costumes e suas leis.

Mas o Estado mente em todas as línguas do bem e do mal, e em tudo quanto diz mente, tudo quanto tem roubou.

Tudo nele é falso; morde com dentes roubados. Até as suas entranhas são falsas.

Uma confusão das línguas do bem e do mal: é este o sinal do Estado. Na verdade, este sinal indica a vontade de morte; está chamando os pregadores da morte.

Vêm ao mundo homens demais, para os supérfluos inventou-se o Estado!

Vede como ele atrai os supérfluos! Como os engole, como os mastiga e remastiga!

“Na terra nada há maior do que eu; sou eu o dedo ordenador de Deus”, assim grita o monstro. E não são só os que têm orelhas compridas e vista curta que caem de joelhos!

Ai! Também a vós, grandes almas, murmura as suas sombrias mentiras! Ai! Ele adivinha os corações ricos que gostam de se prodigalizar!

Sim; adivinha-vos a vós também, vencedores do antigo Deus. Saístes rendidos do combate, e agora a vossa fadiga ainda serve no novo ídolo!

Ele, esse novo ídolo, queria rodear-se de heróis e homens respeitáveis. A este frio monstro agrada acalentar-se ao sol das conseqüências tranqüilas.

A vós outros quer ele, o novo ídolo, dar tudo, se o adorardes. Assim, compra o brilho da vossa virtude e o altivo olhar dos vossos olhos.

Ele quer usarvos para atrair os supérfluos! Sim; inventou com isso uma armadilha infernal, um corcel de morte, retinindo com o arreio adornado de honras divinas.

Inventou para o grande número uma morte que passa por vida, uma servidão à medida do desejo de todos os pregadores da morte.

Chamo de Estado o lugar onde todos bebem veneno, os bons e os maus, onde todos se perdem a si mesmos, os bons e os maus; onde o lento suicídio de todos se chama “vida".

Vede, pois, esses supérfluos! Roubam as obras dos inventores e os tesouros dos sábios; chamam de cultura o seu furto, e transformam tudo em doença e calamidade.

Vede, pois, esses supérfluos! Estão sempre doentes; expelem a bílis e a isso chamam jornal.

Devoram-se e nem sequer se podem digerir.

Vede, pois, esses supérfluos! Adquirem riquezas e fazem-se mais pobres. Querem o poder, esses ineptos, e primeiro de tudo a alavanca do poder: muito dinheiro!

Vede trepar esses ágeis macacos! Trepam uns sobre os outros e arrastam-se para o lodo e para o abismo.

Todos querem abeirar-se do trono; é a loucura – como se a felicidade estivesse no trono! Frequentemente também o trono está no lodo.

Para mim todos assemelham-se a doidos e macacos trepadores e buliçosos. O seu ídolo, esse frio monstro, cheira mal; todos eles, esses idólatras, cheiram mal.

Meus irmãos, quereis por agora afogar-vos na exalação de suas bocas e de seus apetites? É melhor arrancar as janelas e saltar para o ar livre!

Evitai o mau cheiro! Afastai-vos da idolatria dos supérfluos.

Evitai o mau cheiro! Afastai-vos da fumaça desses sacrifícios humanos!

A terra ainda é livre para as grandes almas. Para os que vivem solitários ou aos pares ainda há muitos sítios vagos onde se aspira a fragrância dos mares silenciosos.

Uma vida livre ainda existe para as grandes almas. Na verdade, quem pouco possui tanto menos é possuído. Bendita seja a moderada pobreza!

Somente ali, onde acaba o Estado, começa o homem que não é supérfluo; começa o canto dos que são necessários, melodia única e insubstituível.

Ali, onde acaba o Estado... olhai, meus irmãos! Não vedes o arco-íris e a ponte para o Super-Homem?

sábado, 21 de março de 2009

Midiatrix Revelations



Já estava demorando, mas finalmente começou o primeiro embate, "round" para os súditos idiomáticos do maior país terrorista da face da Terra!

Deputados Federais, já se pronunciaram manifestando sua preocupação com a CoNaCom:

"Esta semana, a conferencia entrou nos debates da Câmara dos Deputados. O Dep. Miro Teixeira atacou-a, dizendo que ela pode ser um instrumento de controle da imprensa, de censura, de cerceamento da liberdade de expressão, etc. Depois desta fala, vários deputados foram na mesma linha. Mais tarde, ouvi uma entrevista na CBN, do presidente da Associação Nacional dos Jornais (ANJ), dizendo que a conferência pode virar algo que pensa o passado (as concessões) e não o futuro (novas mídias)." (Jose Antonio Moroni, do Inesc - Instituto de Estudos Socioeconomicos - www.inesc.org.br)

Será que a conferência não poderia ser, também um instrumento para limitar o descontrole sempre existente, em que a imprensa jamais teve qualquer limite, na prática? Ou o ex-Ministro das Comunicações não tem interesse de que todos tenham liberdade de expressão, mas tão somente apenas os mais ricos, os maiores empresários, banqueiros e comerciantes? Será que não houve um único deputado para se posicionar de forma diferente da descrita por Moroni?

Por que a ANJ não quer que se examine as concessões? Não será porque sempre foram concedidas num processo de lesa-pátria, no toma-lá-dá-cá, em que políticos e outros poderosos trocam sua influência e seu voto por uma outorga de rádio ou TV?

Quem não tem medo da CoNaCom, pode ler um documento atualíssimo sobre a comunicação no país, ainda que produzido em 1990, pela Fenaj - Federação Nacional dos Jornalistas, preservado pela Enecos - Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação:
http://www.enecos.org.br/docs/proposta.doc

Em 16/03/2009, em Uberlândia-MG, o Ministro das Comunicações, ex-funcionário da Rede Globo e pré-candidato ao governo de Minas Gerais, durante inauguração do sistema digital da Rede Integração, afiliada de sua ex e talvez ainda atual patroa, teve sua fala registrada no áudio em anexo e disponível em
http://brasil.indymedia.org/media/2009/03//443073.mp3 .


?A democratização da comunicação sempre existiu no governo do Presidente Lula. Não precisa de uma Conferência Nacional de Comunicação para fazer a democratização de nada. Tudo está sendo democratizado! O país está sendo democratizado! As comunicações estão sendo democratizadas!? (Hélio Costa)

Certamente, o Ministro condenou frontalmente a decisão do Presidente da República em levar a cabo tal iniciativa ainda este ano e isto já demonstra que, com a proximidade da próxima eleição, os ratos já começam a abandonar o navio, fazendo de tudo para afundá-lo antes e ficar bem na foto em 2010. Especialmente para angariar a simpatia e pular para o barco dos financiadores de campanha!...
Na Folha de S. Paulo deste mesmo dia de 16/03/2008, encontramos a Sociedade Interamericana de Imprensa (SII, sigla em espanhol SIP) indo mais além, mas atirando no mesmo alvo:

Lula faz ?críticas desmedidas? à imprensa, afirma entidade: "Em relatório divulgado ontem no Paraguai, a SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa) afirma que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva faz ?críticas desmedidas? aos meios de comunicação. O Palácio do Planalto não comentou oficialmente o documento, no qual o comportamento de Lula em relação à imprensa é comparado ao do colega venezuelano Hugo Chávez.
[http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u535421.shtml]

"A SIP e seus aliados da grande imprensa brasileira dizem que 'estão preocupados porque os debates (na Conferência Nacional de Comunicação) serão conduzidos por ONGs e movimentos sociais que pretendem interferir no funcionamento da imprensa'."
[http://www.sjpdf.org.br/internas/noticias_details.cfm?id_noticia=2012]

Esta manifestação da SIP foi motivo de notas de protesto por parte de sindicatos de jornalistas, um do DF e outro, do RJ. Certamente haverá outros em breve, inclusive de outras entidades do movimento social.
[http://www.sindicatodosjornalistas.com.br/artigo_01.php?idpainel=4308&idnoticia=000000009187]

O que a SIP não diz é que a conferência, na forma como está proposta, será democrática e todos estarão proporcionalmente representados nela, podendo expor liberalmente seus argumentos para votação pelos demais delegados. O problema que preocupa os capitães hereditários da mídia é que, se Lula convocar uma atividade realmente democrática, as vítimas exploradas pela grande imprensa e pelos anunciantes dela serão maioria e imporão, caso seja também deliberativa, uma redistribuição honesta deste poder. Caso seja meramente consultiva, o dano para a minoria e o ganho para a maioria serão ambos menores...

As manifestações da própria Folha de São Paulo, de Franklin Martins e do presidente da Abert - Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão, Daniel Pimentel Slaviero, também esta semana (17/03), evitaram mencionar que a conferência será democrática, apesar de afirmarem que será ampla e plural. Para quem entende português, há uma diferença conceitual astronômica em jogo nesta questão. [ http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u535900.shtml ]

A Folha, através de seus diplomados jornalistas, informou que o evento estará voltado para as novas mídias, desconsiderando de forma explícita a questão da democratização da comunicação, coisa que ela e o PIG - Partido da Imprensa Golpista teme mais que o diabo à cruz.

Sem nenhuma sombra de dúvidas a democratização da comunicação significa reduzir a concentração da mídia nas mãos de uma insignificante minoria numérica, mas com poder suficiente para impedir que Lula ganhasse de Collor em 1989, através da manipulação da informação, feita por jornalistas também diplomados que a própria Fenaj defende como sendo vestais da ética e da qualidade da informação.

Assim, a demora na publicação do decreto permite que ele sofra pressões por parte dos financiadores da campanha de Lula e de seus sócios no poder econômico, numa articulada campanha de classe, através de seus lacaios no poder, para minimizar ao máximo qualquer ganho para aqueles que consideram um absurdo 0,000001 % da população deter 90 % do poder de comunicação e 1 % abocanhar a metade da riqueza nacional. Mas os movimentos sociais também podem pressionar noutra direção se estiverem realmente interessados a defender esta causa. A Comissão Nacional Pró-CoNaCom já cobrou do Presidente Lula a demora em sua publicação. Mas de que lado ele vai ficar, afinal?

Certamente, os Donos da Mídia [ www.DonosDaMidia.com.br ] usarão seus próprios meios de comunicação para atingirem o fim, como sempre, o lucro a qualquer custo, defendendo com unhas e dentes os seus interesses. Afinal, ninguém melhor que Delfim Netto para nos ensinar com quem estamos lidando: "O capitalista é um animal voraz!"

Assim, nada mais racional que os raros seres ainda pensantes deste país, que escaparam da matriz imposta pelo sistema, que nos modela a quase todos (Matrix, o filme), se perguntem, conforme sugerido por Bráulio Ribeiro (Intervozes) e Paulo Miranda (TV Comunitária do DF):

Quem tem medo da CoNaCom e por quê?

Esta conferência vai ser construída ou destruída dentro de um cenário em que a coisa fica ainda mais dramática, especialmente quando Luis Nassif constata, em texto datado de 20/03/2009, às 11:21 h, que "o país passa por um momento político inédito, com os desdobramentos do Caso Satiagraha. (...) Há claramente um cheiro de golpe no ar."
[http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/]

Enquanto não vem o próximo golpe, podemos curtir o anterior, aceitando o convite da Grupo Terrorismo Nunca Mais para missa em Brasília, "pelo 45º Aniversário da Contra-Revolução de 31 de Março de 1964, em sufrágio das almas dos heróis brasileiros que tombaram na luta armada no combate ao comunismo e em defesa da democracia. O ato religioso será realizado às 20:00 horas do dia 31 de março (terça-feira), na Igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro (SHIS EQ/QL 06/08, Conjunto ?A?, Lago Sul , em frente ao Gilberto Salomão)."

É bom lembrar que a ICAR - Igreja Católica, Apostólica e Romana foi uma das articuladoras do golpe, com o apoio da OAB - Órdem dos Advogados do Brasil, até o momento em que não suportaram a sede de sangue dos assassinos profissionais a serviço dos senhores do Estado.

Desconheço até o momento qualquer atividade programada "em sufrágio das almas dos heróis brasileiros que tombaram na luta armada, combatendo" os milicos lacaios do capitalismo, em defesa de outro conceito de democracia (como se fosse possível ter dois governos do povo!!!), contra o fechamento do Congresso Nacional, censura da imprensa, inflação e dívida externa galopantes, tortura, assassinatos e julgamentos sumários de milhares de pessoas, em função do terrorismo de Estado implantado durante 25 anos no país, cujas indenizações todos nós pagamos e não os criminosos que as praticaram. Se alguém souber de algo, não deixe de me avisar!...

Mas quando se fala em golpe, sempre podemos prever dialeticamente, que poderá também haver o contra-golpe. E que este poderá ser preventivo como se alega ter sido o de 1964!... E pouco importa se o suposto golpe for real ou não. O que não podemos prever é o método que será adotado desta vez. Se mais ou menos sutil. Mais ou menos violento. O certo é que não parece haver interesse em fazer coisa alguma de forma legal, moral e juridicamente adequada. Como sempre.


Veja o video:
http://pop.youtube.com/watch?v=Sv55JusfEC8

(*) Heitor Reis é um adolescente mesocentenário ou um centenário meso-adolescente. Engenheiro civil, militante do movimento pela democratização da comunicação e em defesa dos Direitos Humanos, membro do Conselho Consultor da CMQV - Câmara Multidisciplinar de Qualidade de Vida (www.cmqv.org) e articulista. Nenhum direito autoral reservado: Esquerdos autorais ("Copyleft"). Contatos: (31) 9208 2261- heitorreis@gmail.com - 21/03/2009

domingo, 15 de março de 2009

DIREITO À CIDADE - DAVID HARVEY



No dia 29 de janeiro o geógrafo David Harvey fez a palestra inaugural do seminário "Lutas pela reforma urbana: o direito à cidade como alternativa ao neoliberalismo", organizado pelo Fórum Nacional de Reforma Urbana na Tenda da Reforma Urbana instalada dentro do Fórum Social Mundial em Belém do Pará. Leia abaixo a transcrição de sua palestra, na íntegra. A tradução foi feita por Fernando Alves Gomes.

Palestra:

Para mim, é um imenso prazer estar aqui, mas em primeiro lugar eu gostaria de me desculpar por falar em inglês, que é a língua do imperialismo internacional. Eu espero que o que eu vá dizer seja suficientemente antiimperialista para que vocês me perdoem por isso. continue a leitura aqui



Eu estou muito grato pelo convite que me fizeram, porque eu aprendo muito com os movimentos sociais. Eu vim aqui para aprender e para ouvir, e, portanto, eu já considero esta uma grande experiência educacional, pois, como disse Karl Marx certa vez, sempre há a grande questão acerca de quem vai educar os educadores.

Eu tenho trabalhado já há algum tempo com a idéia de um direito à cidade. Eu entendo que o direito à cidade significa o direito de todos nós a criarmos cidades que satisfaçam as necessidades humanas, as nossas necessidades. O direito à cidade não é o direito de ter - e eu vou usar uma expressão do inglês - as migalhas que caem da mesa dos ricos. Todos devemos ter os mesmos direitos de construir os diferentes tipos de cidades que nós queremos que existam.

O direito à cidade não é simplesmente o direito ao que já existe na cidade, mas o direito de transformar a cidade em algo radicalmente diferente. Quando eu olho para a história, vejo que as cidades foram regidas pelo capital, mais que pelas pessoas. Assim, nessa luta pelo direito à cidade haverá também uma luta contra o capital.

Eu quero agora falar um pouco sobre a história da relação entre o capital e a construção de cidades, fazendo uma pergunta: Por que o capital consegue exercer tantos direitos sobre a cidade? E por que as forças populares são relativamente fracas contra aquele poder? Eu também gostaria de falar sobre como, na verdade, a forma com que o capital opera nas cidades é uma de suas fraquezas. Assim, eu acredito que, dessa vez, a luta pelo direito à cidade está no centro da luta contra o capital. Nós estamos vivendo agora, como todos sabem, uma crise financeira do capitalismo. Se nós olharmos para a história recente, nós descobriremos que ao longo dos últimos 30 anos houve muitas crises financeiras. Alguém fez os cálculos e disse que desde 1970 houve 378 crises financeiras no mundo. Entre 1945 e 1970 houve apenas 56 crises financeiras. Portanto, o capital tem produzido muitas crises financeiras nos últimos 30 ou 40 anos. E o que é interessante é que muitas dessas crises financeiras têm origem na urbanização. No fim da década de 1980, a economia japonesa quebrou, e quebrou por conta da especulação da propriedade e da terra. Em 1987, nos Estados Unidos, houve uma enorme crise, na qual centenas de bancos foram à falência, e tudo se deveu à especulação sobre a habitação e o desenvolvimento de propriedade imobiliária. Nos anos de 1970 houve uma grande crise mundial nos mercados imobiliários. E eu poderia continuar indefinidamente, dando-lhes exemplos de crises financeiras com origens urbanas. Meu cálculo é que metade das crises financeiras dos últimos 30 anos teve origem na propriedade urbana. As origens dessa crise nos Estados Unidos estão em algo chamado crise das hipotecas sub prime. Mas eu chamo esta crise não de crise das hipotecas sub prime, e sim de crise urbana.

O que aconteceu foi que nos anos de 1990 surgiu o problema de um excedente de dinheiro sem destinação - o capitalismo é um sistema que sempre produz excedentes. Nós podemos pensar a coisa da seguinte forma: o capitalismo acorda certa manhã e vai ao mercado com certa quantidade de dinheiro e compra trabalho e meios de produção. Ele põe estes elementos para trabalhar e produz certo bem, para vendê-lo por mais dinheiro do que ele tinha no começo. Assim, no fim do dia o capitalista tem mais dinheiro do que ele tinha no começo do dia. E a grande pergunta é: o que é que ele faz com aquele extra que conseguiu? Bem, se ele fosse como você e eu, ele provavelmente sairia e se divertiria gastando o dinheiro. Mas o capitalismo não é assim. Há forças competitivas que o impelem a reinvestir parte de seu capital em novos desenvolvimentos. Na história do capitalismo, tem havido uma taxa de crescimento de 3% desde 1750. Uma taxa de crescimento de 3% significa que é preciso encontrar saídas para o capital. Desse modo, o capitalismo sempre se confronta com aquilo que eu chamo de problema da absorção do excedente do capital: onde eu posso encontrar uma saída lucrativa em que aplicar o meu capital? Em 1750, o mundo inteiro estava aberto para essa questão. E, àquela época, o valor total da economia global era de 135 bilhões de dólares em bens e serviços. Quando se chega a 1950, há 4 trilhões de dólares em circulação, e você tem que encontrar saídas para 3% de 4 trilhões. E quando se chega ao ano 2000, tem-se 42 trilhões de dólares em circulação. Hoje, provavelmente, este valor chega a cerca de 50 trilhões. Em 25 anos, a uma taxa de crescimento de 3%, ele será de 100 trilhões. Isso significa que há uma crescente dificuldade em encontrar saídas rentáveis para o excedente de capital.

Essa situação pode ser apresentada de outra forma. Quando o capitalismo era essencialmente o que acontecia em Manchester e em outros poucos lugares do mundo, uma taxa de crescimento de 3% não representava um problema. Agora nos temos que colocar uma taxa de 3% em tudo que acontece na China, no Leste e no Sudeste asiáticos, na Europa, em grande parte da América Latina e na América do Norte, e aí nós temos um imenso, gigantesco problema. Os capitalistas, quando têm dinheiro, têm também a escolha de como reinvesti-lo. Você pode investir em nova produção. Um dos argumentos para tornar os ricos ainda mais ricos é que eles reinvestirão na produção, e que isso gerará mais emprego e melhores padrões de vida para o povo. Mas desde 1970 eles têm investido cada vez menos em novas produções. Eles têm investido na compra de ativos, ações, direitos de propriedade, inclusive intelectual, e, é claro, em propriedade imobiliária. Portanto, desde 1970, cada vez mais dinheiro tem sido destinado a ativos financeiros, e quando a classe capitalista começa a comprar ativos, o valor destes aumenta. Assim eles começam a fazer dinheiro com o crescimento no valor de seus ativos.

Com isso, os preços da propriedade imobiliária aumentam mais e mais. E isso não torna uma cidade melhor, e sim a torna mais cara. Além disso, na medida em que eles querem construir condomínios de luxo e casas exclusivas, eles têm que empurrar os pobres para fora de suas terras - eles têm que tirar o nosso direito à cidade. Em Nova York, eu acho muito difícil viver em Manhattan, e vejam que eu sou um professor universitário razoavelmente bem pago. A massa da população que de fato trabalha na cidade não tem condições de viver na cidade porque o preço dos imóveis subiu exageradamente. Em outras palavras, o direito das pessoas à cidade foi subtraído. Às vezes ele é subtraído por meio de ações do Mercado, às vezes por meio de ações do governo, que expulsa as pessoas de onde elas vivem, às vezes ele é subtraído por meios ilegais, violentos, ateando- se fogo a um prédio. Houve um período em que parte de Nova York sofreu incêndio após incêndio.

O que isso faz é criar uma situação em que os ricos podem cada vez mais exercer seu domínio sobre toda a cidade, e eles têm que fazer isso, porque essa é a única forma de usar seu excedente de capital. E em algum momento, entretanto, há também incentivos para que esse processo de construção da cidade alcance as pessoas mais pobres. As instituições financeiras concedem empréstimos aos empreendedores imobiliários para que eles desenvolvam grandes áreas da cidade. Você tem os empreendedores que promovem o desenvolvimento, mas o problema é: para quem eles vendem os imóveis? Se a renda da classe trabalhadora estivesse crescendo, então talvez eles poderiam vendê-los para os trabalhadores. Mas desde os anos de 1970 as políticas do neoliberalismo têm implicado reduções salariais. Nos EUA, os salários reais não têm aumentado desde 1970, de tal modo que se tem uma situação em que os salários reais são constantes, mas os preços dos imóveis estão subindo. E de onde vem a demanda por habitação? A resposta consistia em conduzir as classes trabalhadoras a uma situação de débito. E o que nós vemos é que o débito com habitação nos EUA passou de cerca de 40.000 dólares por família para mais de 120.000 dólares por família nos últimos 20 anos. As instituições financeiras batem nas portas dos trabalhadores e dizem "Nós temos um bom negócio para você. Nós lhe emprestamos dinheiro e você pode ter sua casa própria. E não se preocupe se mais adiante você não conseguir pagar sua dívida, porque os preços dos imóveis estão subindo, então tudo está bem".

Assim, mais e mais pessoas de baixa renda foram levadas a contrair dívidas. Mas cerca de dois anos atrás, os preços dos imóveis começaram a cair. A distância entre o que os trabalhadores podiam pagar e o tamanho da dívida tornou-se grande demais. De repente houve uma onda de execuções de hipotecas em muitas cidades americanas. Mas como geralmente acontece com algo desse tipo, há um desenvolvimento geográfico desigual de tal onda. A primeira onda atingiu comunidades de baixíssima renda em muitas das cidades mais antigas dos Estados Unidos. Há um maravilhoso mapa que pode ser visto na página eletrônica da BBC das execuções hipotecárias na cidade de Cleveland. O que se vê é um mapa pontilhado das execuções, que é altamente concentrado em certas áreas da cidade. Há do lado deste um outro mapa, que mostra a distribuição da população afro-americana, e os dois mapas correspondem entre si. O que isso significa é que ocorreu um roubo à população afro-americana de baixa renda. Esta foi a maior perda de ativos de populações de baixa renda nos EUA de todos os tempos: dois milhões de pessoas perderam suas casas. E naquele mesmo momento o pagamento de bônus em Wall Street ultrapassava a casa dos 30 bilhões de dólares - que é o dinheiro extra pago aos banqueiros pelo seu trabalho. Assim, os 30 bilhões pagos em Wall Street foram efetivamente retirados das populações dos bairros de baixa renda. Fala-se sobre isso nos Estados Unidos como um "Katrina financeiro", porque, como vocês se lembram que o furacão Katrina atingiu particularmente Nova Orleans, e foi a população negra de baixa renda que foi deixada para trás, sendo que muitos morreram. Os ricos protegeram seu direito à cidade, mas os pobres essencialmente perderam o deles.

Na Flórida, na Califórnia e no Sudoeste americano, o padrão foi diferente. Ele se mostrou muito mais nas periferias das cidades. Lá, muito dinheiro estava sendo emprestado a grupos de construtoras e incorporadoras. Eles estavam construindo casas fora da cidade, 45km fora de Tuscon e de Los Angeles, e não conseguiam encontrar para quem vendê-las. Então eles buscaram a população branca que não gostava de viver perto de imigrantes e de negros nas cidades centrais. Isso levou a uma situação que se revelou há um ano, quando os altos preços da gasolina tornaram as coisas muito difíceis para aquelas comunidades. Muitas pessoas não conseguiam pagar suas dívidas, de modo que aconteceu uma onda de execuções hipotecárias que está se dando nos subúrbios, e atinge principalmente os brancos, em lugares como a Flórida, o Arizona e a Califórnia. Enquanto isso, o que Wall Street fez foi pegar todas aquelas hipotecas de risco e embrulhá- las em estranhos instrumentos financeiros. Eles pegavam todas as hipotecas de um determinado lugar e colocavam-nas num pacote, e então vendiam partes daquele pacote para outras pessoas. O resultado é que todo o mercado financeiro de hipotecas se globalizou, e o que se vê são pedaços de propriedade hipotecária sendo vendidas para pessoas na Noruega, na Alemanha, no Golfo e em qualquer lugar. Todos foram convencidos de que essas hipotecas e esses instrumentos financeiros eram tão seguros quanto casas. Acabou que eles não se mostraram seguros, e então sobreveio a grande crise, que segue sem parar. Meu argumento é que se essa crise é basicamente uma crise de urbanização, então a solução deve ser uma urbanização diferente, e é aí que a luta pelo direito à cidade se torna crucial, porque nós temos a oportunidade de fazer algo diferente.

Mas sempre me perguntam se essa crise é o fim do neoliberalismo. Minha resposta é "não", se se olha para o que está sendo proposto em Washington e em Londres. Um dos princípios básicos que foram estabelecidos na década de 70 é que o poder do Estado deve proteger as instituições financeiras a qualquer preço. Se há um conflito entre o bem estar das instituições financeiras e o bem estar do povo, opta-se pelo bem estar das instituições financeiras. Este é o princípio que foi desenvolvido na cidade de Nova York City em meados dos anos 70, e que foi definido internacionalmente pela primeira vez quando houve a ameaça de falência do México em 1982. Se o México tivesse ido à falência, isso teria destruído os bancos de investimentos de Nova York. Assim, o Banco Central dos Estados Unidos e o Fundo Monetário Internacional combinaram esforços para ajudar o México a não entrar em falência. Em outras palavras, eles emprestaram o dinheiro que o México precisava para pagar os banqueiros de Nova York. Mas, ao fazê-lo, eles impuseram austeridade à população mexicana. Ou seja, eles protegeram os bancos e destruíram as pessoas. Essa tem sido a prática padrão do FMI desde então. Agora, se olharmos para a resposta dada à crise pelos Estados Unidos e a Inglaterra, nós veremos que o que eles efetivamente fizeram foi salvar os bancos ? são 700 bilhões de dólares para os bancos nos EUA. Eles não fizeram absolutamente nada para proteger os proprietários de imóveis que perderam suas casas. Então, é este exatamente o mesmo princípio que agora vemos em funcionamento: proteger as instituições financeiras e foda-se o povo. O que nós deveríamos ter feito era pegar os 700 bilhões e criar um banco de re-desenvolvimento urbano, para salvarmos todas as comunidades que estavam sendo destruídas e reconstruir as cidades a partir das demandas populares. O interessante é que, se nós tivéssemos feito isso antes, muito da crise teria simplesmente desaparecido, porque não haveria a execução das hipotecas. Nesse meio tempo, nós precisamos organizar um movimento antidespejo - e temos visto isso acontecer em Boston e em algumas outras cidades. Mas, nesse momento da história nos EUA, há um sentimento de que a mobilização popular está restrita porque a eleição de Obama era a prioridade. Muitas pessoas esperam que Obama faça algo diferente, mas infelizmente os seus consultores econômicos são exatamente os mesmos que criaram o problema. Eu duvido que Obama venha a ser tão progressista quanto Lula. Eu acho que nós teremos que esperar um pouco antes que os movimentos sociais comecem a agir. Nós precisamos de um movimento nacional pela reforma urbana como o que vocês têm aqui. Nós temos que construir uma militância do mesmo tipo que vocês construíram aqui. Nós temos que, de fato, começar a exercer nosso direito à cidade. E em algum momento nós teremos que reverter o modo como as instituições financeiras são priorizadas em detrimento do povo. Nós temos que nos questionar o que é mais importante, o valor dos bancos ou o valor da humanidade. O sistema bancário deveria servir às pessoas, e não viver à custa das pessoas. A única forma que temos de, em algum momento, nos tornarmos capazes de exercer nosso direito à cidade é controlando o problema da absorção do excedente capitalista. Nós temos que socializar o excedente do capital. Nós temos que usá-lo para atender necessidades sociais. Nós temos que nos livrar do problema da acumulação constante dos 3%. Nós chegamos a um ponto em que uma taxa de crescimento constante de 3% irá impor custos ambientais tão imensos, irá exercer uma pressão tão grande sobre as questões sociais, que nós viveremos em perpétua crise financeira. Se nós sairmos dessa crise financeira do modo que eles querem, haverá uma outra crise financeira dentro de cinco anos. Chegamos a um ponto em que não podemos mais de aceitar o que disse Margaret Thatcher, que "não há alternativa", e que devemos dizer que deve haver uma alternativa. Deve haver uma alternativa para o capitalismo em geral. E nós podemos começar a nos aproximarmos dessa alternativa percebendo o direito à cidade como uma exigência popular internacional, e eu espero que possamos todos nos unir nessa missão.

Muito obrigado.

Tradução de Fernando Alves Gomes

sábado, 14 de março de 2009

La Guerra del Agua Cochabamba



Video "La Guerra del Agua Cochabamba 2000"


http://www.youtube.com/watch?v=HaBsHFDjCYo&feature=related (parte 1)
http://www.youtube.com/watch?v=kcH2Ru8f3rw (parte 2)

BH - Programa Vila-Viva ou Vila-Morta?




O Programa ?Vila-Viva?, carro chefe da propaganda político-partidária belorizontina, é o maior programa de intervenção em vilas e favelas em execução no Brasil. A enxurrada de benefícios divulgados pela Prefeitura Municipal de Belo Horizonte oculta as verdadeiras conseqüências que fazem do ?Vila-Viva? uma política perversa do ponto de vista dos trabalhadores e das trabalhadoras que vivem nas favelas afetadas. Os grandes meios de comunicação elogiam a iniciativa e simplesmente ignoram as graves conseqüências para as comunidades e as famílias atingidas por esse programa de desfavelização forçada, claramente orientado por outros interesses. É preciso mostrar a verdadeira face deste ambicioso Programa e denunciar a lógica da exclusão urbana levada às últimas consequências pela Prefeitura de Belo Horizonte.

Nesse sentido, as organizações e os movimentos que assinam abaixo manifestam seu repúdio e indignação contra o Programa ?Vila-Viva? pelas razões que se seguem.

Sete razões para repudiarmos o Programa ?Vila-Viva?

1. A escolha das vilas que serão atingidas pelas obras é a maior prova de que o Programa Vila Viva não é motivado por nobres valores dos gestores públicos, preocupados com a qualidade de vida das pessoas que se aglomeram nas favelas. As intervenções estão orientadas pelos interesses do capital imobiliário, pois apenas as vilas mais valorizadas da cidade, bem servidas de equipamentos sociais e com excelente localização, como o Aglomerado da Serra, o Morro das Pedras e a Pedreira Prado Lopes, serão afetadas. Ora, por que as áreas mais distantes da cidade, que apresentam índice de vulnerabilidade social igual ou, muitas vezes, superior aos das vilas pré-definidas, não foram contempladas no programa? Não há que se pensar na melhoria da qualidade de vida dos moradores e moradoras das favelas localizadas no Jatobá, Capitão Eduardo, Ribeiro de Abreu, Jaqueline, Mantiqueira? A verdade é que o esgotamento das áreas edificáveis nas regiões mais valorizadas da cidade chamou a atenção do capital imobiliário para as vilas e favelas, tidas, até então, como capital morto.

2. A mega-intervenção geralmente inclui a construção de uma grande avenida que divide a vila atingida ao meio, acelerando direta e indiretamente o processo de expulsão das famílias pobres das áreas afetadas. Apenas no Aglomerado da Serra serão afetadas mais de 50 mil pessoas. Já na Vila São José, regional Noroeste, serão removidas 8600 pessoas. Essa vila simplesmente deixará de existir. Das 5.113 famílias que moram no Aglomerado do Morro das Pedras, aproximadamente um terço, será removida. Assim, é modificado não apenas o sistema viário das vilas afetadas, mas a própria dinâmica social e a vida da comunidade. Mais apropriado seria nomear o programa de Vila-Morta.. .

3. Uma das piores consequências das obras para a vida dos moradores e moradoras, removidos ou não, é a quebra dos laços de sociabilidade, acompanhada do forte abalo psicológico familiar. A própria forma como a Prefeitura conduz as desapropriações agrava os danos psicológicos nos moradores. As casas que serão atingidas são marcadas com números pintados nos muros com tinta spray vermelha, tal como os nazistas marcavam as casas dos judeus (vide fotos abaixo). Além disso, as casas são demolidas gradualmente, poucas por beco/rua, nunca todas de uma vez. Os entulhos permanecem nos lotes, agora vagos e sombrios. O(A) vizinho(a) de décadas de convivência e amizade cedeu lugar a um amontoado de entulhos, proliferando lixo, escorpiões e afetando a paisagem local. Obviamente, este quadro irá aprofundar o abalo psicológico das demais famílias do/a beco/rua. No processo de remoção, também é muito comum as primeiras casas atingidas serem parcialmente destruídas, apenas para não permitir que a mesma família, ou outra, reocupe o espaço (vide fotos abaixo). Mantendo as paredes erguidas, aquele espaço se torna ponto para a prática de crimes e delitos. Essa situação aprofunda o medo dos vizinhos que já não questionam o valor da indenização e nem colocam obstáculos a sua futura remoção.

4. Como a maioria dos moradores e moradoras das vilas atingidas não possui título de propriedade de seus imóveis, geralmente fruto de ocupação, o cálculo das indenizações por desapropriação não leva em consideração o preço do lote, mas apenas as benfeitorias realizadas no imóvel. Assim, as indenizações sempre ficam aquém do valor real, o que não permite à família indenizada comprar uma nova moradia na região. Na Vila das Antenas, localizada no Morro das Pedras, por exemplo, tem sido pago, a título de indenização, o equivalente a R$ 107,00 o metro quadrado construído. Por outro lado, o preço estimado do metro quadrado na Avenida Raja Gabaglia, localizada a poucos metros da vila, é no mínimo R$ 2.000,00 o metro quadrado. Uma discrepância absurda! As famílias que tiram seu sustento do comércio dentro da vila, geralmente muito dinâmico, são as mais afetadas: perdem trabalho e moradia de uma só vez. Será impossível manter a clientela do salão de beleza, da vendinha ou do ferro-velho morando nos micro-apartamentos. O programa não prevê indenização pelos lucros cessantes, aqueles que o comerciante deixou de auferir com a demolição de sua fonte de renda. Muito curioso: para remover famílias de baixa renda as desapropriações são decretadas no atacado, enquanto nada é feito para punir os especuladores imobiliários que violam o preceito constitucional da função social da propriedade mantendo imóveis abandonados ? em BH são mais de 70 mil!

5. Como as favelas atingidas compõem a chamada ?cidade ilegal?, a maioria das famílias que aí mora está fora do sistema de tributação que recai sobre a propriedade imóvel. Também é muito comum nas favelas a existência de ligações clandestinas nas redes de fornecimento de energia e água. Essa situação permite uma certa reposição salarial, pois geralmente a família que vive no morro consegue liberar seus escassos recursos do pagamento das altíssimas contas de luz e água para adquirir bens de consumo necessários à sua subsistência. Porém, as famílias que são removidas para os ?predinhos?, de um dia para o outro, passam a responder pela conta de água, energia elétrica e, para gravar a situação, taxa de condomínio. A renda familiar, por sua vez, permanece a mesma. Muito provavelmente, aquela família não terá condições de arcar com o forte incremento nos gastos mensais que seu novo padrão de moradia exige. Isso aumenta os conflitos condominiais e, em pouco tempo, essa família será obrigada a vender o imóvel e se transferir para alguma periferia longínqua, onde seus recursos sejam suficientes para adquirir um lote ou pagar o aluguel. O antigo barracão de inestimável valor-de-uso foi trocado por um apartamento que estará prestes a entrar no mercado imobiliário para realização do seu valor-de-troca. Além disso, sobre os apartamentos construídos para parte das famílias removidas, pode-se dizer tudo, menos que oferecem condições de uma vida digna. As famílias costumam dizer que tais apartamentos são como uma caixa de sapato tamanho 35.

6. Para os que ficam nas vilas reformadas, o custo de vida na favela sofre um forte aumento. Sobem todos os preços, desde os aluguéis cobrados até o pãozinho da padaria e a carne do açougue. Assim, sejam eles indenizados, reassentados nos apartamentos, ou mesmo aqueles que permanecem na vila, a tendência é que os moradores das favelas afetadas inchem o déficit habitacional ou protagonizem novos assentamentos ?clandestinos? , porém em áreas mais periféricas, desprovidas de equipamentos e serviços, longe do local de trabalho, longe dos olhos das elites. Esta é a lógica perversa da segregação sócio-espacial realimentada pela política pública da Prefeitura de Belo Horizonte.

7. As elites buscam resolver os problemas urbanos a seu modo, lançando mão de medidas incapazes de impedir que esses problemas se renovem. Os moradores removidos da Vila São José ou do Taquaril continuarão vivendo precariamente, provavelmente de aluguel e não mais em Belo Horizonte, mas em algum município da região metropolitana, como Ribeirão das Neves, Vespasiano ou Santa Luzia. Afinal, a Prefeitura prioriza as obras, mas nunca o reassentamento das famílias removidas. Neste ponto, importante acrescentar um fator subjetivo, do campo da ideologia, que é a visão das elites sobre as favelas. Elas podem até se reproduzir, desde que longe do seu campo visual. Nesta perspectiva, o desadensamento de vilas e favelas possui um forte corte de classe que se expressa nas palavras do próprio Prefeito Fernando Pimentel:

?Mas muito além dos danos à paisagem está o comprometimento social resultante dessa informalidade habitacional. São milhões de pessoas que estão à margem dos serviços públicos como saneamento, segurança e lazer. E tudo isso debaixo do nosso nariz, na vizinhança de bairros centrais das nossas metrópoles?. (Grifamos) (Artigo publicado no Jornal Valor Econômico do dia 31/08/2007 sob o título Favela: uma solução de dentro para fora)

Conclusões

Com tantas consequências danosas, fica difícil suportar a falsa propaganda da Prefeitura docilmente reproduzida pela grande imprensa. Ao contrário do discurso amplamente vendido, programas de intervenção em vilas e favelas desta natureza não integram as favelas às cidades, simplesmente as fazem desaparecer do mapa, junto com seus habitantes que se vêem rechaçados pela cidade que um dia lhes abriu as portas. Inexistindo resistência organizada contra o programa, pode-se afirmar que as vilas afetadas estarão com a certidão de óbito firmada. Dentro em breve, será outro o perfil social das áreas que hoje são ocupadas pela população do interior do estado atraída pela promessa de uma vida melhor na capital.

Segundo a Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte (Urbel), grande parte dos trabalhadores e trabalhadoras contratados nas obras vivem nas áreas atingidas. Dessa maneira, a Prefeitura consegue impedir a resistência dos moradores. Importante lembrar que os primeiros moradores da Pedreira Prado Lopes, uma das vilas afetadas, chegaram antes mesmo da fundação da capital e eram contratados para trabalhar na construção da cidade. Agora, seus descendentes trabalham na transformação do morro que lhes serviu de abrigo, e o mesmo ciclo se repete, pois lá não poderão mais habitar, como não o puderam nos limites da recém nascida cidade, dentro da área circundada pela Avenida do Contorno. A lógica perversa da segregação sócio-espacial lhes reserva outro destino, bem longe dali, para além dos muros da cidade.


Associação Comunitária dos Moradores do Novo Lajedo ? Associação e Núcleo de Moradia da Vila Santa Rita e Adjacências ? Associação Mineira da Providência ? Brigadas Populares ? Conlutas ? Conselho Comunitário Assistencial e Social da Vila Marçola ? Escola de Samba Cidade Jardim ? Federação das Associações de Moradores de Belo Horizonte (FAMOB) ? Graal BH ? Grupo de Amigos e Familiares de Pessoas em Privação de Liberdade ? Hip Hop Gerais ? Grupo de Teatro do Oprimido Levante ? Movimento Nacional de Luta Pela Moradia (MNLM) ? Movimento Nacional de População de Rua (MNPR) ? Movimento dos Sem Universidade (MSU) ? Movimento dos Trabalhadores Desempregados (MTD) ? Núcleo Geração Trabalho e Renda ? Núcleo de Sem Casa do Conjunto Santa Maria e Adjacências ? Ocupação Camilo Torres ? Ocupação Navantino Alves ? Rede Popular Solidária (RPS) ? Sistema Caracol de Rádio e TV Comunitária

sexta-feira, 13 de março de 2009

*Porque apoio o MST*




Eu sou José Jonas Duarte da Costa. Sou professor do Departamento de História e do Programa de Pós-graduação em História da UFPB Universidade Federal da Paraíba. Atualmente coordeno o curso de História para os Movimentos Sociais do Campo nesta Universidade. Sou graduado em História, mestre em Economia e doutor em História Econômica pela USP.

Diante da ofensiva de setores reacionários da sociedade brasileira contra o MST venho a público prestar minha irrestrita solidariedade e apoio a esse movimento social popular que hoje é o depositário da resistência democrática e da luta por um tempo melhor de justiça e paz na sociedade brasileira.

Minha aproximação com o MST ocorreu quando o nosso Departamento de História aprovou, ainda em 2004, um curso de história para os movimentos sociais do campo, em parceria com o PRONERA – Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária, do INCRA/MDA, cujo demandante era o MST.

Nessa aproximação pude constatar que o MST é o que há de novo e revolucionário na sociedade brasileira, em termos de sua postura ética e dos valores disseminados. Há um código de postura no MST que se baseia na solidariedade, na justiça e na democracia interna, respeitando as diferenças, mas mantendo a unidade da ação política e social.

Nos primeiros quatro anos que convivemos com os alunos do MST, nós do mundo acadêmico tivemos a oportunidade de apreender com os (as) militantes do Movimento valores olvidados em nosso dia a dia de atividades de pesquisas e de ensino, numa universidade que parece fria diante do mundo ao redor. O MST trouxe à academia brasileira a vibração e os questionamentos de uma sociedade prenha de contradições, desigualdades e injustiças. Mas também trouxe métodos, técnicas e teorias baseadas na solidariedade com o próximo, na honestidade e na crítica corajosa da academia. Por isso conquistou a todos docentes, discentes e servidores que conheceram essa nova postura diante da sociedade alienada, consumista e individualista em que vivemos. Mostrou-se ser um pólo de aglutinação da resistência democrática. Sem partidarismos ou sectarismos, ao mesmo tempo em que se tornou pólo de aglutinação para os que lutam por um mundo de justiça e de liberdade. Para quem tem visão emancipadora para os oprimidos da Terra.

Por isso os fascistas, os reacionários e os adesistas da ordem perseguem e tentam criminalizar o MST. Porque ele, o Movimento, é avesso às injustiças. Porque não se cala diante das ignomínias. Porque denuncia a exploração. Porque organiza o povo. Porque eleva o nível político cultural das massas trabalhadoras. Porque desperta o povo brasileiro para lutar por justiça, por igualdade, por emancipação. Essa atuação do MST desperta a ira da classe dominante brasileira. Essa classe dominante que não pode ser chamada de elite para embelezar sua trajetória histórica suja e vergonhosa. Classe dominante escravocrata, preconceituosa. Que mantém sua opulência e consumismo à custa do sofrimento, da fome, da miséria e do abandono em que vivem milhões de brasileiros. Classe dominante que se associou submissa aos magnatas do capital internacional para entregar a pátria, nosso patrimônio comum. Deram de mãos beijadas a Vale do Rio Doce, a CSN, a TELEBRÁS e parte da PETROBRÁS. Classe dominante que se apropria por grilagem descarada das terras públicas na Amazônia, no Pantanal, no Cerrado e em várias partes do Brasil; que mantém trabalhadores escravos em sua sanha de acumulação nas mais modernas fazendas e usinas. Classe dominante parasitária, abarrotada de dinheiro fictício oriundo da especulação financeira e da jogatina nos mercados de ações. Enfim , classe dominante que em nada honra o Brasil e seu povo trabalhador, honesto, explorado, mas altivo.

Repudio energicamente esses representantes do poder judiciário e dos meios de comunicação, a serviço dos neofascistas disfarçados de democratas e enganosamente falando em defesa do Estado de Direito na tentativa de criminalizar o MST. Esses representam o autoritarismo, os poderosos, os que querem a manutenção da opressão e da injustiça social.

Vejam a quem serve o poder judiciário brasileiro - a instituição mais anti-democrática desse país; que de fato só observa a Lei quando é contra os pobres, os desvalidos, os indefesos. Os verdadeiros criminosos contra o povo, contra o patrimônio brasileiro e contra o Brasil estão impunes, por um poder judiciário que para esses é dócil, lento e ordinário. E a quem serve esses meios de comunicação de massa senão a esses setores neofascistas que vêm em onda no Brasil ? Que entram nos lares brasileiros diariamente dizendo suas mentiras e espalhando a ideologia dos dominantes, dos exploradores. A ideologia do individualismo, do consumismo, da alienação.

Atacar o MST é atacar a esperança num tempo melhor.

Gostaria de falar sobre a experiência no curso de história para os Movimentos Sociais do Campo. E certamente falo em nome dos professores desse bravo Departamento de História que aprovou, por unanimidade, a segunda turma de História para os Movimentos Sociais do
Campo, já em andamento.

No nosso curso de História tivemos os estudantes mais dedicados e esforçados da UFPB. Alcançaram um Coeficiente de Rendimento Escolar Médio de 8,65. Bastante superior aos dos nossos alunos de História do curso extensivo, que souberam acolher e apoiar a experiência magistral que desenvolvemos nesta Universidade e que mantém o curso de História da UFPB entre os dez melhores do Brasil. O índice de desistência do curso para os movimentos sociais do campo foi de apenas 3,2%. Dez vezes menos do que o índice médio da universidade. As monografias apresentadas pelos graduados em História oriundos dos Movimentos Sociais do Campo, particularmente do MST, foram destaque nessa universidade. Algumas estão para ser publicadas por editoras internacionais. Muitos desses alunos/militantes foram aprovados em concursos Brasil afora e em programas de mestrados.

A convivência com os militantes do MST nos orgulha, orgulha a UFPB e a todos que com eles socializam essa experiência. O espírito de solidariedade deles contagiou a muitos dos que com eles partilharam os estudos acadêmicos e as ações políticas na Universidade. Aos que com eles participaram das jornadas nos fins de semanas voluntários, quando realizavam limpeza no quarteirão onde estavam alojados. Quando decidiram colaborar com as colônias de pescadores da Praia da Penha, consertando barcos, redes e outros apetrechos da pescaria, quando resolveram fazer, semestralmente, mutirões de doação de sangue para o Hemocentro da Paraíba, como uma
espécie de retribuição carinhosa à Paraíba pela recepção calorosa do nosso Estado a esses educandos/militante s oriundos de 23 estados brasileiros onde o MST se organiza.

Por isso não só apoio o MST, como sinto-me honrado de trabalhar com esse Movimento. Conclamo aos que lerem esse meu desabafo e concordarem com ele a cerrarem fileira numa grande mobilização internética e/ou de rua em apoio ao MST. O momento é crucial, pois em época de crise a direita mostra suas armas contra o povo e suas organizações. Revivemos momento de ameaça a vida democrática brasileira. Por isso é hora dos que defendem a democracia erguer os punhos unidos contra o avanço do autoritarismo e do golpismo. A direita quer acuar o Governo Lula em seu viés democrático, progressista. Não podemos ficar indiferentes.

*Jonas Duarte, professor do Departamento de História da Universidade Federal da Paraíba (UFPB)*

quarta-feira, 11 de março de 2009

e agora em seu padre?


O poeta Miguezim, de Princesa (PB), colocou em versos o episódio do bispo de Recife/Olinda, contra o aborto da menina de nove anos, estuprada e grávida de gêmeos.


A EXCOMUNHÃO DA VÍTIMA
Miguezim de Princesa

I
Peço à musa do improviso
Que me dê inspiração,
Ciência e sabedoria,
Inteligência e razão,
Peço que Deus que me proteja
Para falar de uma igreja
Que comete aberração.

II
Pelas fogueiras que arderam
No tempo da Inquisição,
Pelas mulheres queimadas
Sem apelo ou compaixão,
Pensava que o Vaticano
Tinha mudado de plano,
Abolido a excomunhão.

III
Mas o bispo Dom José,
Um homem conservador,
Tratou com impiedade
A vítima de um estuprador,
Massacrada e abusada,
Sofrida e violentada,
Sem futuro e sem amor.

IV
Depois que houve o estupro,
A menina engravidou.
Ela só tem nove anos,
A Justiça autorizou
Que a criança abortasse
Antes que a vida brotasse
Um fruto do desamor.

V
O aborto, já previsto
Na nossa legislação,
Teve o apoio declarado
Do ministro Temporão,
Que é médico bom e zeloso,
E mostrou ser corajoso
Ao enfrentar a questão.

VI
Além de excomungar
O ministro Temporão,
Dom José excomungou
Da menina, sem razão,
A mãe, a vó e a tia
E se brincar puniria
Até a quarta geração.

VII
É esquisito que a igreja,
Que tanto prega o perdão,
Resolva excomungar médicos
Que cumpriram sua missão
E num beco sem saída
Livraram uma pobre vida
Do fel da desilusão.

VIII
Mas o mundo está virado
E cheio de desatinos:
Missa virou presepada,
Tem dança até do pepino,
Padre que usa bermuda,
Deixando mulher buchuda
E bolindo com os meninos.

IX
Milhões morrendo de Aids:
É grande a devastação,
Mas a igreja acha bom
Furunfar sem proteção
E o padre prega na missa
Que camisinha na lingüiça
É uma coisa do Cão.

X
E esta quem me contou
Foi Lima do Camarão:
Dom José excomungou
A equipe de plantão,
A família da menina
E o ministro Temporão,
Mas para o estuprador,
Que por certo perdoou,
O arcebispo reservou
A vaga de sacristão.

terça-feira, 10 de março de 2009

manifesto antiismo (agora sem hífen??)


Manifesto anti-ismo

Cristianismo, islamismo, judaísmo, budismo, hinduísmo. Socialismo, comunismo, anarquismo, situacionismo. Sionismo, anti-semitismo, nazismo, fascismo. Capitalismo, vegetarianismo, consumismo, humanismo. Individualismo, coletivismo. Realismo, surrealismo, expressionismo, dadaísmo, pós-modernismo.
A lista de ismos é interminável. Porque a humanidade tem valorizado tanto essa particula? Acreditamos que seja por causa de um outro ismo: o dogmatismo.
O ser humano ainda não conseguiu se desvencilhar dos Deuses. Precisamos sempre de um guia transcendental, de uma moral absoluta que nos indique um caminho seguro. Caminho seguro? Para onde? Os fins são os mais variados possíveis. Talvez a explicação para a doença dos ismos esteja bem aí, nos fins: cada ismo é apropriado individualmente para justificar uma vida vazia de sentido. Abrigam-se sobre eles as angústias de se viver sozinho no mundo, vindo de não-sei-onde, indo para não-sei-onde. Não-sei-por quê. Em cada comunidade ilusória, sustentada pelas mais diversas ideologias, o pequeno animal humano, acuado em seu íntimo, encontra algo que parece ser maior que ele, independente de sua vontade, transcendente. Se identifica ao ser supremo e se coloca sob sua proteção. Identifica aí os "irmãos" e os "infiéis". Aí o peso do mundo sob suas costas fica mais leve, pois agora tem uma muleta divina para se apoiar. Sacrifica sua vontade para não ter que suportar a idéia de que pode escolher seu próprio caminho, viver como criador de si. Todo dogmatismo é um pouco de covardia.
E agora vejamos algumas das feridas abertas por essa doença. A primeira são nossas modernas religiões monoteístas (monoteísmo). Quantas mortes, torturas, auto-flagelo e guerras
foram detonados por elas? Pensemos nas cruzadas, na jihad, na santa inquisição, nos tchandala hindus, na negação da vontade pregada pelo budismo. Em pleno século XXI ainda podemos ver o ódio e a vontade de dominar escondidos sob disfarces divinos. Se mata por cristo ou por Alá, e em todos estes atos se acredita estar obedecendo a um desígnio sobre-humano.
A segunda ferida, é a ferida política. Milhões de judeus esmagados pela maquina nazista. Outros milhões de "contra-revolucioná rios" mortos por Stalin e Mao em nome do comunismo. Cada uma destas ideologias se via como a única salvação para a humanidade, seus líderes eram Jesus na cruz, apontando o caminho para a verdade. E esta ferida está mais aberta do que nunca. Apoiados na raça ou na ideologia, grupos e povos vem se agredindo e se odiando mutuamente. Passemos rapidamente o olhar sobre um grande ismo: o Marxismo. Ainda hoje, leninistas-trotskis tas, leninistas-stalinis tas e maoístas se acusam mutuamente de reformistas, contra-revolucioná rios, traidores. E todos abominam em conjunto os anarquistas, que por sua vez, abominam todo mundo. Isso para não falar das incontáveis correntes teóricas que se debatem pelos espólios do pensamento marxiano. Pobre Marx, que em vida se dizia não-marxista.
A terceira ferida é indolor. Ainda que possa ter causado uma ou outra agressão, a coisa não passa muito das revistas, bares e galerias. Falo aqui dos movimentos artísticos. Uma das formas de expressão do humano vem através da arte. Na arte, seu instinto criador, tão reprimido em outras esferas, encontra um canal para manifestar-se. O problema é que, novamente, a ânsia de verdade, do absoluto, vem à tona. O artista super-valoriza sua obra, e se vê, assim como Hitler, como o redentor estético da humanidade. E atrás dele vem as hostes não-criativas para venera-lo e imortaliza-lo. Assim, o pobre instinto criador se vê mais uma vez reprimido. Atualmente, no tempo da arte-mercadoria, a coisa desandou de vez. Um ismo substitui o outro com velocidade cada vez maior, enquanto os próprios artistas, agora profissionalizados, perdem a capacidade de comunicar qualquer coisa que seja. Os mais críticos limitam-se a comunicar que já não existe mais comunicação. Estão ai os pós-modernistas que não nos deixam mentir.

A última ferida que vamos apresentar, é uma ferida nova. São os novos-ismos, que vem na hora certa para salvar todo dogmatismo do passado, no momento de sua crise. Muito já se falou sobre "o fim das grandes narrativas", a "crise do pensamento" e etc. Já que não existem mais as grandes narrativas, que tal substituí-las por milhares de pequenas narrativas? Humanismo, vegetarianismo, preservacionismo, ativismo e toda uma série de pós-ismos vem agora em socorro da verdade dogmática. Só que estes novos-ismos estão condenados já em seu berço. Não tem mais a força das grandes religiões e das grandes ideologias. Seu brilho pálido só consegue fascinar pequenos grupos que se multiplicam sem cessar. Na intenção de sermos positivos (não positivistas) , podemos enxergar o fato como a crise final de todos os ismos. Assim como o mito perdeu sua força ao ser dessacralizado e fragmentado pela burguesia, uma quantidade infinita de pequenas verdades pode bem destruir o mito da verdade.
O leitor deve estar se perguntando o que queremos com este manifesto. Seria então instaurar um novo ismo, o antiismismo? De maneira alguma. Não se trata de rejeitar absolutamente nenhum destes ismos. O absoluto é exatamente o que combatemos. Podemos aprender mesmo com aquilo que julgamos pior. O marxismo, por exemplo, não é algo que deva ser jogado no lixo, Marx foi um legítimo homem de seu tempo, um criador, e por isso arranjou um rebanho tão grande e tão mediocre. O que nos importa é reconhecer os instintos e idéias que estão por trás destes ciclopes absolutos. Reconhecer que, seja qual for o fim que é anunciado, os resultados não estão nunca garantidos, e as intenções estão sempre dissimuladas, mesmo para aqueles que professam a pretensa verdade. E que nos protejamos aqui de um outro ismo: o relativismo. Julgar que tudo é igual só pode levar-nos á inércia e a confusão.

O que reivindicamos aqui (podem chama-la de "nossa verdade") é que o ser humano se liberte de seu passado, sua identidade, suas verdades eternas e absolutas. Cada um de nós é um universo, ou um abismo. Nada pode ser transmitido, nenhuma idéia pode ser imposta. Nossa linguagem, metafórica por natureza, já é uma prova de que vivemos apenas como criadores, ainda que tenhamos aprendido a sublimar muito bem esse nosso instinto. Eu posso dizer o que penso, concordar, discordar, reavaliar. Queremos ser compreendidos, nunca seguidos. Queremos interlocutores (mortos ou vivos), mas nunca seguidores. Então essa é a nossa verdade e nosso dogma: viver como criadores ou morrer como animais de rebanho.

domingo, 8 de março de 2009

A nós mulheres...

Excomungados por causa do aborto.

A Igreja Católica excomungou os envolvidos com o aborto da menina grávida de gêmeos após ser estuprada pelo padrasto em Pernambuco.O Estuprador não recebeu tal punição e para o arcebispo "Aborto é pior que estupro".


Mesmo com as circunstâncias da situação, a Igreja Católica não voltou atrás e optou por seguir em uma linha conservadora,reafirmando seus dogmas, mostrando- se intolerável até em assuntos que colocam em jogo a vida de seus fiéis.
Ao tomar conhecimento sobre a realização do aborto na menina de 9 anos, grávida de gêmeos após sofrer violência sexual pelo padrasto em Alagoinha(PE) ,o arcebispo de Recife e Olinda,
dom José Cardozo Sobrinho não teve misericórdia e resolveu excomungar a mãe da gestante e a equipe médica envolvida no procedimento,a menina só foi poupada do castigo imposto pela Igreja por ser menor de idade.
O médico Olímpio Moraes disse que se a gravidez continuasse o dano seria pior, pois levaria a uma gravidez de alto risco.
"O risco existiria até de morte ou de uma sequela definitiva de não poder mais engravidar", informa o médico.
Se por um lado o arcebispo mostrou-se visívelmente incomodado e escandalizado com o interrompimento da gravidez,pelo outro surprendeu ao minimizar a questão da violência praticada contra a menina.
Segundo ele, o crime de estupro não está incluído nos delitos gravíssimos da igreja que causam a excomunhão automática -como aborto, heresia e violência física contra o papa-, apesar de ser considerado "pecado". Por isso,o padrasto que estuprou a garotinha não foi punido com a excomunhão.
"De acordo com a lei de Deus, a igreja condena todos os pecados. Homicídio é pecado. Quem comete não está excomungado, mas é um pecado grave. Roubar, assaltar e estuprar também são pecados, mas não tão graves quanto aborto."
Analisando pelo que foi dito por dom José Cardozo sobrinho,a lei da Igreja é bastante incompriensível,pois se alguém comete uma violência física contra o Papa, logo está praticando um "crime gravíssimo contra a igreja",se uma criança de 9 anos sofre uma violência sexual,isso é pecado, mais já não é uma coisa tão grave assim. Seria o papa mais importante do que essa menina?

Vai entender né?
_____


Dia Internacional das Mulheres...
para que mesmo????
....

Doçura

Nasci dura, heróica, solitária e em pé.
E encontrei meu contraponto na paisagem
sem pitoresco e sem beleza.
A feiúra é o meu estandarte de guerra.
Eu amo o feio com um amor de igual para igual.
E desafio a morte.
Eu - eu sou a minha própria morte.
E ninguém vai mais longe.
O que há de bárbaro em mim
procura o bárbaro e cruel fora de mim.
Vejo em claros e escuros os rostos das pessoas que vacilam às chamas da fogueira.
Sou uma árvore que arde com duro prazer.
Só uma doçura me possui:
a conivência com o mundo.
Eu amo a minha cruz,
a que doloridamente carrego.
É o mínimo que posso fazer de minha vida:
aceitar comiseravelmente o sacrifício da noite.
(Clarice Lispector)

Fechar escolas itinerantes é atacar a escola pública



O professor da faculdade de educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Roberto Leher, criticou o fechamento de escolas itinerantes do MST, no Rio Grande do Sul. De acordo com o Ministério Público gaúcho, as escolas não funcionavam como deveriam, especialmente no que diz respeito ao conteúdo ensinado. Para Leher, isso é uma censura ao pluralismo na escola pública.

Para o professor, só a perseguição política que o MST está sofrendo no estado explica este fechamento, uma vez que as críticas educacionais não fazem sentido.

“O maior equívoco é não compreenderem que uma escola pública, se ela é de fato do povo, ela tem que ser uma escola que dialogue e interaja com o protagonismo social. A escola pública, para que ela seja pública, ela tem que incluir todas as pessoas. Eles estão impedindo que os cidadãos possam expressar o seu ponto de vista e, sobretudo, possam ser sujeitos e protagonistas da organização do público. Isto é um ato de violência, que tenta silenciar a existência do movimento sem terra”.

Segundo Leher, a educação pública brasileira passa por uma crise por não conseguir interagir com crianças e jovens. E a pedagogia utilizada pelo MST e desenvolvida por Paulo Freire tem o mérito de aproximar a escola da vida real das pessoas.

Um conjunto de educadores elaborou um documento criticando o fechamento das escolas itinerantes, que será entregue ao governo estadual, ao Ministério Público e à Assembléia Legislativa, todos do Rio Grande do Sul. O documento ainda será entregue às entidades acadêmicas e sindicais com intuito de se criar um movimento nacional em defesa das escolas itinerantes.

Contêiner vira sala de aula


Além de rever colegas, o primeiro dia de aulas na Escola Estadual de Ensino Fundamental Ismael Chaves Barcellos, em Galópolis, na região de Caxias do Sul (RS) serviu para que cerca de 200 alunos conhecessem as novas salas: contêineres de metal alugados pelo Estado. Parte do colégio foi atingida por um incêndio em setembro e, como não há previsão de quando a reforma será feita, a solução encontrada pelo governo foi o improviso. A escola tem quase 500 alunos.

No dia 3 de setembro um incêndio atingiu uma sala que servia como depósito junto à biblioteca, no primeiro andar, e a escada de madeira que dá acesso ao segundo piso. Como a escada foi interditada, não foi mais possível utilizar o segundo pavimento. Até o final do semestre passado, os estudantes das salas atingidas tiveram aula no antigo cinema de Galópolis. Mas o espaço era inadequado: não havia pátio para brincadeiras e duas turmas dividiam o mesmo ambiente sem paredes que os isolassem.

Ontem, no primeiro dia de aula, oito turmas, quatro pela manhã e outras quatro à tarde, tiveram como novo endereço os contêineres instalados no pátio em frente ao prédio da escola. Pela manhã, os alunos de duas 5ªs uma 4ª e uma 7ª estão no local. Na parte da tarde, os pequenos de duas 3ªs, um 3º ano (equivalente à 2ª série) e um 2º ano (equivalente à 1ª série) são os estudantes das salas de metal. O prédio de um andar formado pelos contêineres tem um corredor que divide duas salas para cada lado. O teto é de zinco. Cada sala, toda revestida com forro PVC, mede 6 x 7 metros, totalizando 42 metros quadrados. Os espaços têm três janelas basculantes de um lado e duas de outro e são iluminados por seis conjuntos de fluorescentes. Cada turma tem entre 20 e 29 alunos. Segundo a Secretaria Estadual de Educação, o custo mensal do aluguel é de R$ 9,5 mil. O contrato para 180 dias totaliza R$ 57 mil.

A preocupação da diretora, Sonia Beatriz Sbersi, é com dias de sol, que trarão muito calor às salas metálicas. Dias de chuvas forte também devem causar barulho que atrapalhará as aulas. "Fechei a porta no começo da aula, mas não deu para ficar fechada – diz a professora Lucimar Albeche."
A professora Vainer Formolo, 57, dá aula para 29 estudantes em uma das salas-contêineres. "A vantagem é que isola a acústica. Mas é muito abafado".



*Manifesto em defesa da reabertura e de uma melhor infra-estrutura pública da Escola Itinerante do MST-RS*





A governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crucius, e parte direitista do Ministério Público do estado estão golpeando as Escolas Itinerantes do MST no Rio Grande do Sul, decretando o banimento dessas instituições educativas. O ato de proscrever essa inspiradora iniciativa educativa do MST é parte do processo de criminalização e de expulsão do MST do estado, conforme vem sendo denunciado pelas entidades democráticas de dezenas de países.



Para proteger os latifúndios e as corporações, em especial as de celulose, Yeda e seus aliados querem cortar o que julgam ser o "mal pela raiz": a educação das crianças, dos jovens e dos adultos que estão acampadas há anos, pois nada é feito em prol da reforma agrária. A governadora quer silenciá-los.



Os camponeses foram expropriados de suas terras pelo poder do grande capital e nenhuma alternativa econômica lhes foi possibilitada. É por isso que as bandeiras do MST tremulam à beira das rodovias que ladeiam os latifúndios destrutivos. Dignamente os camponeses resistem lutando pela democracia que, para ser verdadeira, não pode prescindir dos meios econômicos que assegurem condições de vida humana. E as Escolas Itinerantes são parte desse processo civilizatório.



As Escolas Itinerantes do MST são espaços de conhecimento, criação, socialização com base em valores ético-políticos libertários e democráticos. São espaços públicos de formação humana, de crítica e de renovação do pensamento pedagógico brasileiro e latino-americano. Estudiosos de diversos países as investigam e as difundem por meio de teses, artigos, experiências de educação popular, propagando ideais pedagógicos originalmente sistematizados e difundidos por Paulo Freire. As Escolas Itinerantes são lugares que estão propiciando reflexões que permitem construir um melhor futuro para a educação pública, gratuita, laica e autônoma frente aos interesses particularistas e mesquinhos como os professados pelo atual governo estadual.



Exigimos a imediata reabertura das Escolas Itinerantes acompanhadas pelo MST, bem como a garantia de que o poder público assegurará a infra-estrutura necessária ao pleno funcionamento das mesmas. Os signatários do presente Manifesto estarão acompanhando as ações do governo estadual nos sindicatos, nas escolas, nas universidades, nas lutas sociais, promovendo denúncias e atos políticos até que as escolas voltem às crianças, aos jovens e aos professores que nelas atuam.



Carlos Walter Porto-Gonçalves – UFF

Eduardo Galeano – Escritor (Uruguai)

Emir Sader – UERJ, Secretario Executivo do CLACSO

Gaudêncio Frigotto – UERJ

Ivana Jinkings –Editora Boitempo

Marcelo Badaró - UFF

Roberto Leher – UFRJ

Virgínia Fontes - UFF e Fiocruz

Zé Ninguém- Filosofo, Psicogeografo, Artesão, Musico, Poeta, jogador de futebol, ator, desempregado e em crise.



Adesões: http://www.Petition Online.com/ 05032009/





Manifesto dirigido para:


Yeda Crusius: governadora@ gg.rs.gov. br; Ministério Público: pgj@mp.rs.gov. br; Assembléia Legislativa - Presidente Ivar Pavan (PT): ivarpavan@al. rs.gov.br
c/c: MST RS: mstrs@mst.org. br

NOTA PÚBLICA


Nota Pública sobre as declarações do presidente do STF, Gilmar Mendes



A Coordenação Nacional da CPT diante das manifestações do presidente do STF, Gilmar Mendes, vem a público se manifestar.



No dia 25 de fevereiro, à raiz da morte de quatro seguranças armados de fazendas no Pernambuco e de ocupações de terras no Pontal do Paranapanema, o ministro acusou os movimentos de praticarem ações ilegais e criticou o poder executivo de cometer ato ilícito por repassar recursos públicos para quem, segundo ele, pratica ações ilegais. Cobrou do Ministério Público investigação sobre tais repasses. No dia 4 de março, voltou à carga discordando do procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, para quem o repasse de dinheiro público a entidades que “invadem” propriedades públicas ou privadas, como o MST, não deve ser classificado automaticamente como crime.O ministro, então, anunciou a decisão do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), do qual ele mesmo é presidente, de recomendar aos tribunais de todo o país que seja dada prioridade a ações sobre conflitos fundiários.

Esta medida de dar prioridade aos conflitos agrários era mais do que necessária. Quem sabe com ela aconteça o julgamento das apelações dos responsáveis pelo massacre de Eldorado de Carajás, (PA), sucedido em 1996; tenha um desfecho o processo do massacre de Corumbiara, (RO), (1995); seja por fim julgada a chacina dos fiscais do Ministério do Trabalho, em Unaí, MG (2004); seja também julgado o massacre de sem terras, em Felisburgo (MG) 2004; o mesmo acontecendo com o arrastado julgamento do assassinato de Irmã Dorothy Stang, em Anapu (PA) no ano de2005, e cuja federalização foi negada pelo STJ, em 2005.

Quem sabe com esta medida possam ser analisados os mais de mil e quinhentos casos de assassinato de trabalhadores do campo. A CPT, com efeito, registrou de 1985 a 2007, 1.117 ocorrências de conflitos com a morte de 1.493 trabalhadores. (Em 2008, ainda dados parciais, são 23 os assassinatos). Destas 1.117 ocorrências, só 85 foram julgadas até hoje, tendo sido condenados 71 executores dos crimes e absolvidos 49 e condenados somente 19 mandantes, dos quais nenhum se encontra preso. Ou aguardam julgamento das apelações em liberdade, ou fugiram da prisão, muitas vezes pela porta da frente, ou morreram.

Causa estranheza, porém, o fato desta medida estar sendo tomada neste momento. A prioridade pedida pelo CNJ será para o conjunto dos conflitos fundiários ou para levantar as ações dos sem terra a fim de incriminá-los? Pelo que se pode deduzir da fala do presidente do STF, “faltam só dois anos para o fim do governo Lula”... e não se pode esperar, “pois estamos falando de mortes” nos parece ser a segunda alternativa, pois conflitos fundiários, seguidos de mortes, são constantes. Alguém já viu, por acaso, este presidente do Supremo se levantar contra a violência que se abate sobre os trabalhadores do campo, ou denunciar a grilagem de terras públicas, ou cobrar medidas contra os fazendeiros que exploram mão-de-obra escrava?



Ao contrário, o ministro vem se mostrando insistentemente zeloso em cobrar do governo as migalhas repassadas aos movimentos que hoje abastecem dezenas de cidades brasileiras com os produtos dos seus assentamentos, que conseguiram, com sua produção, elevar a renda de diversos municípios, além de suprirem o poder público em ações de educação, de assistência técnica, e em ações comunitárias. O ministro não faz a mesma cobrança em relação ao repasse de vultosos recursos ao agronegócio e às suas entidades de classe.



Pelas intervenções do ministro se deduz que ele vê na organização dos trabalhadores sem terra, sobretudo no MST, uma ameaça constante aos direitos constitucionais.



O ministro Gilmar Mendes não esconde sua parcialidade e de que lado está. Como grande proprietário de terra no Mato Grosso ele é um representante das elites brasileiras, ciosas dos seus privilégios. Para ele e para elas os que valem, são os que impulsionam o “progresso”, embora ao preço do desvio de recursos, da grilagem de terras, da destruição do meio-ambiente, e da exploração da mão de obra em condições análogas às de trabalho escravo. Gilmar Mendes escancara aos olhos da Nação a realidade do poder judiciário que, com raras exceções, vem colocando o direito à propriedade da terra como um direito absoluto e relativiza a sua função social. O poder judiciário, na maioria das vezes leniente com a classe dominante é agílimo para atender suas demandas contra os pequenos e extremamente lento ou omisso em face das justas reivindicações destes. Exemplo disso foi a veloz libertação do banqueiro Daniel Dantas, também grande latifundiário no Pará, mesmo pesando sobre ele acusações muito sérias, inclusive de tentativa de corrupção.



O Evangelho é incisivo ao denunciar a hipocrisia reinante nas altas esferas do poder: “Ai de vocês, guias cegos, vocês coam um mosquito, mas engolem um camelo” (MT 23,23-24).



Que o Deus de Justiça ilumine nosso País e o livre de juízes como Gilmar Mendes!



Goiânia, 6 de março de 2009.





Dom Xavier Gilles de Maupeou d’Ableiges

Presidente da Comissão Pastoral da Terra